A investigadora principal do Instituto de Ciências Sociais e doutorada em Ciência Política por Oxford, Marina Costa Lobo, acredita que um Presidente da República, num quadro de maioria absoluta, tende a ficar “mais livre para ser quem é”. Para a politóloga, nestas condições, um Presidente “sabe que o Governo não cairá”. Mas por outro lado, isso não quer dizer que este resultado eleitoral tenha correspondido às expectativas de Marcelo: “A tal ideia de Bloco Central, mesmo que informal, puxando o Governo mais para a direita, para um ciclo de dois anos, altura em que o PSD poderia ganhar eleições, também se esfumou”. Ou seja, apesar da “liberdade” para ser igual a si próprio, Marcelo perdeu a expectativa de contribuir para levar ao poder o seu partido de origem.
Marina Costa Lobo sustenta que o voto útil à direita não funcionou porque Rui Rio não dramatizou o suficiente, em campanha. “Pelo contrário, deu sempre a ideia de que podia entender-se com todos, à direita, e mesmo o Chega não foi descartado”, o que, na análise desta analista, marca “uma profunda diferença com a estratégia de Carlos Moedas, na campanha de Lisboa”. Isto deu inteira liberdade ao eleitorado de direita para votar no partido da sua preferência. Também o programa social-democrata, a propósito do qual o PS explorou a ideia de eventual privatização da Saúde, terá assustado parte do eleitorado.
Mais: à esquerda, a ideia de que o Chega poderia ser importante nalguma solução governativa, mobilizou o eleitorado para votar útil. E a dramatização de António Costa, que empurrou para os partidos à sua esquerda a responsabilidade pela crise política, terá resultado.
Sobre a influência das sondagens e dos seus alegados erros, Marina Costa Lobo salienta que, em legislativas, as sondagens costumam estar bastante próximas dos resultados finais. Desta vez, terá havido uma massa de indecisos à esquerda que, à última hora, perante o equilíbrio anunciado, se mobilizou para votar PS e descartar qualquer “perigo” de governo à direita.
Sobre a crise no Bloco e no PCP, Marina Costa Lobo chama a atenção para as compensações e os riscos, para partidos pequenos, de se associarem a um dos partidos dominantes do sistema – e o próprio CDS “foi vítima disso”, por o eleitorado “perceber mal o que o distinguia” do PSD. “Fazer acordos com o partido dominante da sua área política pode ser positivo, para um pequeno partido, porque passa a influenciar as políticas públicas”. Mas, por outro lado, “a diferença esbate-se, como aconteceu, após estes anos de geringonça: as diferenças entro o PS e os seus parceiros esbateram-se”.
Nesta entrevista, Marina Costa Lobo analisa, ainda, outras consequências das eleições, como o advento dos liberais, o sucesso do Chega (que, para a politóloga, é um partido “não da direita radical mas de extrema-direita”) e o definhamento do PCP.
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