O assunto pode ter saído das capas dos jornais, mas Paulo de Morais não o esquece. Para o presidente da associação Frente Cívica, a profusão de relações familiares nos organismos do Estado é o reflexo de termos “uma elite política de muito baixa qualidade”, que se agarra a “argumentos legalistas” para “fugira a um crivo moral”. Esta quarta-feira, no Irrevogável, o programa de entrevistas políticas da VISÃO, foi categórico sobre o chamado familygate, que não crê estar ultrapassado: “Se nós passearmos no Parlamento, encontramos mais gente da mesma família do que na ceia de Natal…”
Para Paulo de Morais, que tem dedicado os últimos anos à denúncia de alegados esquemas de corrupção, nos corredores da Assembleia da República, “pais e filhos, e afilhados, e sobrinhos são às dezenas”, algo que considera inaceitável, apesar de não ter apontado casos concretos. De igual modo, na entrevista, o docente universitário e ativista voltou a carregar sobre as incompatibilidades e os conflitos de interesses dos deputados em funções, apontando como exemplo o social-democrata António Topa, presidente da Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação.
Quando se referiu a Ricardo Salgado, também evitou meias-palavras. Garantiu que, “num ordenamento jurídico mais exigente”, o antigo presidente executivo do BES, “estaria preso e todo o seu património estaria arrestado de forma preventiva”. “Não devia ter nem um euro em Portugal”, observou Paulo de Morais, frisando que acha “estranho” que o antigo banqueiro ainda não tenha sido condenado.
Além disso, na opinião do homem que também foi vice-presidente da Câmara Municipal do Porto, a anterior procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, foi “saneada” graças a um conluio entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, por ser incómoda para “amigos” do Presidente da República e do primeiro-ministro.
Quanto ao futuro, e depois de ter entrado na corrida a Belém em 2016 (obtendo cerca de 100 mil votos), Paulo de Morais assegura não ter vontade de repetir a iniciativa. E revela até a sua satisfação por Ana Gomes (cuja agenda anti-corrupção elogia) ter decidido avançar. Não adianta, para já, se apoiará a antiga eurodeputada socialista, mas a preferência ficou sinalizada.
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