Às 7h12 de 26 de janeiro, o Folha Nacional publicou um artigo intitulado “CHEGA perto dos 20% em intenções de voto”, a partir de uma sondagem realizada pela Aximage para o jornal do Chega. A abrir, a notícia, não assinada, dizia que, “Se as legislativas se realizassem agora, o CHEGA alcançaria perto dos 20% das intenções de voto, ou seja, ultrapassaria o valor que obteve nas eleições de março 2024 (18%)”.
Seguem-se os resultados dos outros partidos. “Em primeiro lugar, está a Aliança Democrática com 26,9% e em segundo o PS com 24,7%. Ainda assim, ambos os partidos desceram nas intenções de voto, face às eleições legislativas de março.” Lê-se ainda que IL tem 5,8%, BE, 4,1%, Livre, 3,2%, CDU, 3%, e PAN, 2,3%.
Estranhamente, o único partido que não tem direito a um resultado exato, até às décimas, é o próprio Chega.
Uma vez que o jornal do partido só divulgou dados parciais da sondagem (o que parece ser prática habitual), a ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) esperou 15 dias para disponibilizar a sondagem no seu site. Consultado o inquérito, percebe-se que, na verdade, o Chega obtém 19% das intenções de voto, o que pode ajudar a explicar a razão pela qual o Folha Nacional preferiu dar o resultado aproximado – é que na sondagem anterior, depositada na ERC a 29 de novembro e também encomendada à Aximage, o partido tem 19,5% das intenções de voto. A linguagem criativa na forma de apresentar os resultados desta nova sondagem (“perto dos 20%”) não permite perceber essa ligeira queda de 0,5%.
O que mais ficou de fora?
Uma hora e 33 minutos após o primeiro artigo, o Folha Nacional publicou mais um a partir da sondagem, com o título “30% admite votar em André Ventura para Presidente da República”. O artigo, com três parágrafos (fora a ficha técnica, que tem quase o dobro dos caracteres do que a notícia em si), diz que “cerca de 30% dos inquiridos” admitiu que poderia votar em Ventura nas presidenciais. Mais uma vez, é usada uma expressão (“cerca de”) a indicar um resultado aproximado, o que não se compreende, uma vez que o inquérito dá exatamente 30%.
André Ventura apressou-se a capitalizar o resultado, publicando quase imediatamente uma mensagem no X (ex-Twitter) a agradecer a “confiança” dos portugueses, acompanhada por uma imagem e um link do artigo.
Estes dois artigos são tudo o que o Folha Nacional extraiu da sondagem que encomendou. Mas o inquérito incluiu também uma avaliação dos líderes partidários, que não foi revelada pelo jornal. E não é difícil perceber porquê: dos cinco líderes avaliados, André Ventura é, de longe, o que reúne mais avaliações negativas: 55% dos inquiridos diz que, nos 30 dias anteriores, o líder do Chega tem atuado mal (18%) ou muito mal (37%). Mais nenhum líder ultrapassa 50% de opiniões negativas.
Pedro Nuno Santos é o segundo líder mais impopular, com 46% dos inquiridos a opinar que o líder do PS tem atuado mal ou muito mal; seguem-se Nuno Melo (43%) e Rui Rocha (38%). Luís Montenegro é o mais popular, com 37% de opiniões negativas e 51% de positivas, sendo o único dos líderes avaliados a ter mais opiniões favoráveis do que desfavoráveis.
Estes resultados não tiveram direito a publicação nas redes sociais de André Ventura.