Nuno Ramos de Almeida, do movimento Vida Justa, é perentório. “Em nenhuma circunstância teremos manifestação no final com o Chega, porque somos responsáveis”, diz à VISÃO, explicando que o movimento está neste momento em contacto com a Secretaria-Geral da Administração Interna e com a PSP para chegar a acordo sobre o percurso do protesto, admitindo mesmo alterá-lo, apesar de ter sido comunicado às entidades competentes muito antes da convocatória feita pelo líder do Chega, André Ventura.
Admitimos mudamos o percurso. Desconvocar nunca”, avisa Ramos de Almeida, que diz estar a sensibilizar as autoridades policiais para o clima de tensão que pode ser desnecessariamente provocado pelo facto de ter as manifestações do Vida Justa e do Chega a desembocar no mesmo sítio, em frente à Assembleia da República.
“Achamos que a polícia não está a perceber a situação e está a permitir que haja confusão”, declara Nuno Ramos de Almeida, frisando que estas manifestações acontecem num momento em que “uma comoção social” que pode facilmente ser o rastilho para desacatos no encontro entre manifestantes. “Não é possível que admitam isto”, insiste.
Perfis de extrema-direita divulgam convocatórias falsas
O movimento Vida Justa denuncia também a forma como estão a circular nas redes sociais convocatórias falsas que apelam a atos de vandalismo no centro de Lisboa, este sábado.
“Detetámos perfis de extrema-direita a convocar manifestações falsas”, diz Ramos de Almeida que insiste na denúncia para que se perceba que o Vida Justa está a convocar uma manifestação pacífica, à semelhança das outras que já realizou no centro de Lisboa.
“Isto é como o incêndio do Reichtag. Quem ateou o fogo foi um militante comunista holandês com problemas mentais. Mas quem aproveitou o fogo foram os nazis”, recorda Nuno Ramos de Almeida, apontando o dedo “às informações incendiárias publicitadas pela extrema-direita” nos últimos dias.
“Está convocatória [da manifestação do Chega] enquadra-se nessa ideia”, argumenta.
Ventura faz convocatória “em defesa do Estado de Direito”, mas não condena deputado do Chega que defende que “a polícia atire a matar mais vezes”
André Ventura anunciou que irá liderar um protesto “em defesa da polícia, em defesa do estado de Direito e em defesa do cumprimento das regras do estado de Direito”, depois de o Vida Justa ter convocado uma manifestação reclamando justiça para Odair Moniz, o cidadão morto pela PSP depois de desobedecer a uma ordem policial na Cova da Moura.
“Nós procuraremos com as autoridades, ao longo das próximas horas, fazer a articulação necessária para que os dois percursos não se cruzem e para garantirmos que as manifestações serão pacíficas”, disse na altura André Ventura. O problema é que, a menos que as autoridades obriguem a uma solução diferente, está previsto que ambos os protestos terminam no mesmo local.
“É preciso fazer justiça e condenar a morte de Odair Moniz pela polícia. Infelizmente, não é caso único. Há demasiados mortos nas nossas comunidades. É preciso acabar com a violência e a impunidade policial nos bairros. É preciso que as pessoas deixem de ser tratadas como não-cidadãos que podem ser agredidos e mortos”, lê-se na convocatória feita pelo Vida Justa.
“O que está em curso por alguns setores da sociedade é uma tentativa vil de ataque da polícia, de menorização da polícia e de desculpabilização deste tipo de violência que está em curso”, defendeu o líder do Chega, que diz ser preciso mostrar que “há outro país” que está ao lado da polícia.
Isto depois de o líder parlamentar do seu partido, Pedro Pinto, ter dito na RTP3 que se as forças de segurança “disparassem mais a matar, o país estava mais na ordem”, declarações que Ventura, que já defendeu que fosse dada uma medalha ao polícia que matou Odair Moniz e se referiu a quem mora nos bairros periféricos como “rascaria”, não condenou.
Agente que matou Odair confessou não ter sido atacado com faca
O agente que alvejou Odair Moniz, cozinheiro de 43 anos, já foi constituído arguido. É suspeito de homicídio e, segundo a CNN e o Expresso, já terá admitido à PJ que Odair não o ameaçou com uma faca, ao contrário do que foi escrito no auto de polícia sobre a ocorrência e do que ficou no comunicado do Comando Distrital da PSP sobre o caso.
De resto, o DN avançou que as câmaras de videovigilância na Cova da Moura registaram o momento que levou à morte de Odair Moniz e que nessas imagens não é visível qualquer faca.
A revista VISÃO também divulgou um vídeo, captado por telemóvel, no qual se vê Odair Moniz deitado no chão, sem que nos quatro minutos que dura a gravação os agentes façam qualquer manobra de salvamento.