A “nora do Presidente” é nomeada pela primeira vez quando a mãe das gémeas luso-brasileiras, Daniela Martins, é apanhada por uma câmara oculta numa reportagem da TVI. Nessas imagens, Daniela gabava-se a conhecer, dando a entender que esse conhecimento teria sido fundamental para o “pistolão” (a cunha) que teria para conseguir em Portugal acesso a um dos medicamentos mais caros do mundo para as suas filhas, facto que depois veio desmentir em audição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que decorre sobre o caso.
“Afirmei que conhecia a nora do presidente da República, mas a verdade é que somente a conheci num evento de Natal em São Paulo, anos depois da medicação”, afirmou perante os deputados, em contradição com o email enviado por Nuno Rebelo de Sousa ao seu pai, Marcelo Rebelo de Sousa, no qual se referia que os pais das gémeas eram amigos de amigos comuns.
Um e-mail suspeito
Esta quarta-feira, o nome de Juliana Drumond voltou a ser trazido à CPI pelo PSD, que requereu a audição da companheira de Nuno Rebelo de Sousa. Porquê? Porque, como explicou o deputado social-democrata António Rodrigues, o nome de Juliana aparece em conhecimento num e-mail enviado por Nuno, com um pormenor que pode ser importante.
O endereço de email em questão, embora sendo um Gmail, contém a palavra “seguros”, o que suscita a hipótese de uma ligação a uma seguradora, dado que pode ser relevante para perceber uma eventual ligação aos pais das gémeas.
De resto, a CNN revelou recentemente que a seguradora contratada pelos pais para segurar as filhas poderá ter poupado milhões pelo facto de as crianças terem recebido o tratamento de forma gratuita através do SNS. “Esta poupança é uma consequência lógica de uma decisão judicial que obrigou a seguradora brasileira a pagar esse outro medicamento e foi referida pela mãe das crianças na gravação captada em outubro de 2023 pela CNN Portugal”, lê-se na notícia no site da estação.
Apesar desse endereço de e-mail, o Linkedin de Juliana Vilela Drumond diz que a companheira de Nuno Rebelo de Sousa trabalha há oito anos como consultora em Gestão de Processos e Governança na Open Labs S.A, uma empresa do universo da Altice, que desenvolve sistemas nas áreas de negócios, operações, redes, TV, media e eHealth.
O requerimento apresentado pelo PSD para ouvir Juliana Drumond foi aprovado por unanimidade.
“Não queremos motivo para circo”, diz PSD sobre CPI com recorde de audições
A CPI aprovou também a audição do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da ex-ministra da Justiça, Francisca Van Dunem.
Apesar de ter ajudado a viabilizar, com a abstenção, as audições dos ex-ministros, o PSD manifestou dúvidas sobre a importância real de ouvir estes responsáveis políticos para o apuramento dos factos.
“Queremos chegar a verdade dos factos, mas depressa. Não queremos motivo para circo”, disse António Rodrigues.
O PS, que também se absteve nesta votação, chamou a atenção para o facto de esta CPI estar a chegar a um recorde de audições neste tipo de comissões, chegando às 50. “O que não deixa de transmitir a ideia de que se quer politizar a CPI”, declarou o deputado socialista João Paulo Correia.