O debate sobre o novo aeroporto de Lisboa já vem desde o Estado Novo – sim, é mais velho do que a Democracia em Portugal -, e não há meio de ser tomada uma decisão final. Eis algumas datas marcantes de uma novela interminável.
8 de março de 1969
Marcelo Caetano, presidente do Conselho de Ministros, e Américo Tomás, Presidente da República, criam o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa (GNAL). Desde logo surgem quatro localizações possíveis: Fonte da Telha, Montijo, Porto Alto e Rio Frio. Dois anos depois, esta última opção estava na dianteira das preferências, mas em 1972 a hipótese Alcochete salta para cima da mesa. Daí até à Revolução do 25 de abril de 1974 nada se decidiu. Chegava a liberdade, o novo aeroporto ficava em “banho-maria”.
1978
O GNAL dá lugar à ANA – Aeroportos de Portugal, que volta a puxar o assunto para a agenda. As possibilidades na Margem Sul do Tejo são postas de lado, para ser lançada uma nova possível solução: na Ota, concelho de Alequer, a cerca de 50 quilómetros de Lisboa.
1994
O novo aeroporto de Lisboa continua sem sair do papel. Uma avaliação da ANA coloca a opção Rio Frio à frente da Ota e do Montijo, o que também já teria acontecido durante a década de 1980, mas nenhum Governo avança com uma decisão – e muito menos com obras.
5 de julho de 1999
Governo de António Guterres escolhe a Ota em detrimento de Rio Frio. A decisão é conhecida antes das eleições legislativas desse ano e o projeto é incluído no programa de Governo para a Legislatura seguinte. Data prevista para o fim das obras: 2012. O plano não chega a conhecer a luz do dia, até que o primeiro-ministro se demite, em dezembro de 2001, para evitar que Portugal “caia no pântano”.
22 de novembro de 2005
Munido dos “estudos que se fizeram durante 30 anos” sobre a opção Ota, e de mais seis que o seu Governo encomendou, o primeiro-ministro José Sócrates defendeu, numa apresentação pública sob o lema “Lisboa 2017: Um aeroporto com futuro”, a construção do novo aeroporto naquela localização, desafiando os opositores a realizarem outros estudos que provassem que haveria uma alternativa melhor.
10 de janeiro de 2008
Um estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil conclui que a escolha do Campo de Tiro de Alcochete é mais favorável do que a Ota para a localização do futuro aeroporto. José Sócrates, o primeiro-ministro, confirma a escolha. Exatamente 30 anos depois de ter sido equacionada, a freguesia do concelho de Alenquer deixa de ser hipótese a considerar. A dúvida tinha sido levantada, no ano anterior, pela Confederação da Indústria Portuguesa, que preferia Alcochete. Já a Associação Comercial do Porto desejava juntar o Montijo à Portela. Rio Frio, Poceirão e Faias eram outras localidades sugeridas para um novo aeroporto, o que motivou, em maio de 2007, uma célebre declaração de Mário Lino. O então ministro das Obras Públicas desvalorizou todas essas alternativas à Ota na Margem Sul do Tejo, caracterizando-as como um “deserto para onde seria necessário deslocar milhões de pessoas”.
7 de Maio de 2010
Cerca de um ano antes de José Sócrates anunciar o pedido de ajuda financeira internacional, o projeto do novo aeroporto volta para as calendas, sob o pretexto da necessidade de reduzir o défice. Só já no final da legislatura seguinte, em 2015, o governo de Pedro Passos Coelho retoma o assunto, apontando a uma solução menos onerosa, a chamada Portela+1, com apoio no Montijo. No entanto, não é sequer assinado qualquer acordo escrito com as várias entidades envolvidas, uma vez que se aproximavam eleições.
8 de janeiro de 2019
Governo e ANA – Aeroportos de Portugal assinam compromisso de financiamento, no valor de 1300 milhões de euros, para a construção de um aeroporto complementar no Montijo e para a expansão do aeroporto da Portela. A infraestrutura na Margem Sul do Tejo seria desenvolvida a partir da base aérea número 6 do aeroporto militar do Montijo, com o objetivo de acomodar as companhias com tarifas mais económicas. “Chega de hesitações”, diz Pedro Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas. As obras deveriam estar concluídas em 2022, mas ainda faltava a avaliação de impacte ambiental.
2 de março de 2021
A Autoridade Nacional da Aviação Civil recusa fazer a apreciação prévia da viabilidade do aeroporto complementar do Montijo, justificando a decisão com o facto de alguns dos municípios afetados não terem dado luz verde à solução, conforme a Lei obriga. O PS quer alterá-la, revogando o direito de veto dos municípios em projetos nacionais, mas tal ainda não aconteceu.
30 de junho 2022
Um dia depois de Pedro Nuno Santos, na altura Ministro das Infraestruturas e da Habitação, ter apresentado o plano para avançar com o aeroporto complementar do Montijo e, depois, com um novo aeroporto em Alcochete, António Costa revogou o despacho para o efeito. A intervenção no Montijo estava prevista ficar concluída em 2026 e a nova infraestrutura deveria estar operacional em 2035.