Manuel Magno Alves fala português com sotaque brasileiro. Da infância em Trás-os-Montes, guarda poucas memórias. O novo deputado do Chega nasceu na pequena aldeia de Oura, município de Chaves, em 1949. Mas, com apenas seis anos de idade, emigrou para o Brasil, numa vaga que “levou” quase um terço das pessoas daquela terra. Para trás, ficava a miséria do país de António de Oliveira Salazar.
Aos 75 anos, Manuel Magno Alves regressa a Portugal pela “porta” do Palácio de São Bento. No círculo Fora da Europa, o Chega foi o segundo partido mais votado – a Aliança Democrática ganhou esta corrida (e elegeu o cabeça de lista José Cesário) –, muito graças aos votos dos portugueses que residem no Brasil, precisamente a terra de adoção do candidato escolhido por André Ventura. Antes da eleição, Manuel Magno Alves propunha-se, numa entrevista, chegar ao Parlamento português para alcançar o “respeito que nunca foi dado [aos emigrantes portugueses] pelos sucessivos governos” liderados por PS e PSD.
A sua eleição “roubou” o lugar ao ainda presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, cabeça de lista do PS (a terceira força mais votada neste círculo) que, na anterior legislatura, teve um mandato marcado pelos confrontos com a bancada parlamentar do partido de André Ventura. Em jeito de festejo, Ventura publicou, na rede social X (antigo Twitter), uma montagem em que Augusto Santos Silva surge empunhando um cachecol do Chega. A imagem dispensa descrição.
O “emigrante exemplar” que trocou PSD por Chega
Manuel Magno Alves atravessou o Atlântico para instalar-se na zona de São Paulo. Foi aí que cresceu, trabalhou e estudou – tornou-se figura proeminente da sociedade paulista. Acabaria por concluir licenciatura e pós-graduação em Direito. Simultaneamente, trabalhava “no duro”. Em 1962, deu os primeiros passos no setor da banca, onde permaneceu até 1974. Assistiu à distância à chegada da liberdade a Portugal – com o 25 de Abril –, continuando a somar no mundo dos negócios. Entre 1974 e 1991, dedicou-se à área do imobiliário, apostando na construção, em cidades do interior do estado de São Paulo. Em 1992, abriu o seu primeiro escritório de advogados.
O “emigrante exemplar” sempre se interessou por política. Apesar da distância, manteve-se sempre ligado a Portugal. A prová-lo, está o facto de ter presidido à secção de São Paulo do PSD, a partir de 2015. Nas legislativas de 2022, surgiu como número 2 na lista social-democrata do círculo Fora da Europa. O percurso acabaria por ser semelhante ao de outros dos novos deputados nesta legislatura, casos de Rui Cristina, Eduardo Teixeira ou Maria Manuela Tender, com a passagem para o Chega – a aposta foi ganha com estrondo (foram todos eleitos).
Respeitado (e já agraciado) na comunidade onde vive há quase sete décadas, o advogado e empresário ocupou vários cargos no Brasil. Integrou o Conselho Consultivo do Consulado Geral de Portugal em São Paulo e o Conselho Consultivo da Câmara Portuguesa de Comércio. Atualmente, Manuel Magno Alves é presidente do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do estado de São Paulo e do Conselho Diretor da Associação Comercial de São Paulo. Em 2019, recebeu o titulo de “Cidadão Paulistano”, numa sessão solene, aquela que seria noticiada como “a maior honraria” do município de São Paulo. Fica na história da política portuguesa como o 50.º deputado do Chega.