“Ponta de lança” não é só a posição que Cristiano Ronaldo tem ocupado nos últimos anos; é também o nome da empresa imobiliária, detida pela família do jogador, que está no radar da investigação a suspeitas de corrupção na Madeira. Em dezembro de 2016, a sociedade, então liderada por Hugo Dinarte Aveiro, irmão do jogador do Al-Nassr, comprou o terreno com 250 metros de vista para o mar, na Praia Formosa, que daria origem ao projeto Formosa Bay Pestana Residences & CR7. O Ministério Público afirma existirem suspeitas de favorecimento dos “interesses e negócios” dos promotores.
É sobre uma teia de interesses, negócios entre setores público e privado e portas giratórias na Madeira que assenta a investigação da Polícia Judiciária – que culminou com a detenção de Pedro Calado, presidente da câmara do Funchal, e dos empresários Avelino Farinha e Custódio Correia, os quais, à hora de fecho desta edição, ainda estavam a ser interrogados no Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa – e que, segundo vários documentos judiciais, vai muito além da câmara do Funchal e da cúpula do Governo Regional. Nos despachos, são citadas adjudicações a empresas sob suspeita por parte das autarquias da Calheta, Porto Santo e Câmara de Lobos, todas lideradas pelo PS, assim como a intervenção, ao nível central, de secretários regionais, como Rogério Calado, Pedro Fino, Rogério Gouveia e Rui Barreto, este último indicado pelo CDS para o Governo Regional e que, nesta semana, exigiu a demissão imediata de Miguel Albuquerque. O Ministério Público refere que o líder do CDS/Madeira, atual secretário regional das Finanças, acompanhou de perto o processo de adjudicação da concessão de um serviço de transportes públicos na ilha.