As cartas enviadas para as federações desportivas (ver caixa), pela provedora Ana Jorge, que alertavam para a necessidade de cortes nos patrocínios, por “constrangimentos financeiros” da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), destaparam publicamente o cenário de crise que se foi acumulando no interior da instituição, durante o mandato de Edmundo Martinho (2017-2023), e que se foi agravando com a pandemia. Invejada, muitas vezes, pela centralização das verbas provenientes dos jogos sociais – Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, aproveitou o momento para pedir ao Governo para “avaliar” este modelo –, pelo seu vasto património imobiliário na capital ou até pelos milhões que recebe em doações, a atividade da SCML arrastou-se, nos últimos três anos, em convulsões internas que já obrigaram à intervenção da tutela. As contas da instituição, que “afundaram” em 2020 e 2021, passando de lucros avultados para prejuízos acumulados de €72,1 milhões, serão, neste caso, apenas a face mais visível do problema. Por homologar permanecem ainda as contas de 2021 e 2022.
“Ao contrário do que as pessoas possam pensar, esta não é a primeira vez que a SCML vive uma situação difícil”, recorda, à VISÃO, uma fonte com ligações profundas à instituição. “Antes de inventarem o Euromilhões [em fevereiro de 2004], ainda no mandato de Maria José Nogueira Pinto, a Misericórdia de Lisboa quase não tinha dinheiro para pagar ordenados. Agora, com a redução das receitas dos jogos sociais durante e após a pandemia, as coisas voltaram a complicar-se”, explica, apontando ainda para “outros problemas” dentro da casa.