O ex-secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, iniciou a sua participação na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (CPI) com uma intervenção auto-elogiosa do seu trabalho do Ministério, referindo ter sempre dado condições às administrações da companhia para fazer o seu trabalho. Hugo Mendes sublinhou ter mantido uma excelente relação com o Ministério das Finanças, dizendo, por isso, ser “ridícula a acusação” de que pretendeu “impedir a comunicação da TAP” com as Finanças.
Esta foi a primeira resposta de Hugo Mendes a uma das críticas de que tem sido alvo nos últimos meses, depois de ter sido conhecido um email, no qual disse à ex-CEO da TAP, Christine Ourmières-Widenerque, a “porta de entrada” da administração da TAP com o Governo era com o Ministério das Infraestruturas
Sobre outra das acusações – um email enviado pela ex-CEO a Hugo Mendes a pedir a sua opinião sobre o pedido que recebeu da agência de viagens para alterar um voo do Presidente da República, tendo o então governante respondido que era importante manter o apoio político de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que era o “principal aliado” do Governo mas que poderia tornar-se o “pior pesadelo” – Hugo Mendes admitiu que não deveria “ter partilhado aquela opinião. Uma opinião infeliz”. Porém, garantiu não tratar-se de uma instrução, dado que nunca mais se interessou pelo caso.
“Penalizo-me pelo comentário que partilhei com ex-CEO sobre o senhor Presidente da República, embora quisesse tão só sinalizar junto de alguém com quem tinha uma relação profissional de confiança o apoio que o senhor Presidente da República deu à difícil decisão de resgatar a TAP”, disse Hugo Mendes na sua intervenção inicial na comissão de inquérito à TAP a propósito de um email sobre a alteração da data de um voo de Marcelo Rebelo de Sousa.
Reconhecendo que “não devia ter emitido nem partilhado aquela opinião tanto no seu conteúdo como na sua forma”, o antigo governante garantiu que não partiu dele “a iniciativa de pedir nada” e que foi o “destinatário de um email” que a ex-CEO endereçou a “expressar uma dúvida”. “Limitei-me a partilhar uma opinião. Foi sem dúvida infeliz, mas eu não dei nenhuma instrução”, assegurou.
Na opinião de Hugo Mendes, Christine Ourmières-Widener “tanto sabia que não era uma instrução como tomou a decisão que entendeu ser a melhor na esfera da sua autonomia” e não alterou o voo.
“Se tivesse sido uma instrução que não tivesse esse sido cumprida merecia uma chamada de atenção”, ressalvou.
Hugo Mendes demitiu-se em 4 de janeiro, juntamente com o então ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, na sequência da polémica saída de Alexandra Reis da TAP, em fevereiro de 2022.
Na altura da saída do Governo, ministro e secretário de Estado disseram não ter memória da polémica indemnização, porém, em 20 de janeiro, informaram, em comunicado, ter encontrado uma mensagem da qual não se recordavam em que era dada anuência política àquele valor.
Ao longo das audições na comissão parlamentar de inquérito, que arrancaram em 29 de março, tem sido abordada a intervenção do ex-secretário de Estado noutras questões polémicas, como no caso da alteração de um voo do Presidente da República, por conveniência política.