Passado pouco mais de um ano da hecatombe eleitoral do Bloco de Esquerda (BE), nas legislativas de janeiro de 2022, Mariana Mortágua prepara-se para, aos 36 anos, abrir um novo ciclo na liderança do seu partido. Mais do que representar uma linha de continuidade, ao ser herdeira do legado deixado por Catarina Martins, que encabeçou a cúpula do BE durante dez anos, a (mais do que provável) futura líder terá pela frente a delicada tarefa de projetar, para o futuro, um partido que procura reencontrar o rumo que o catapultou para terceira força política nacional, já na segunda década deste século.
Primeiro, Mariana Mortágua terá como encargo reparar brechas internas, próprias do BE, nascido, em 1999, a partir de um amálgama de movimentos e de correntes marxistas, trotskistas e leninistas. Desde 2015 que as diferenças no interior do partido se têm vindo a alargar e a agravar, demonstradas pelas críticas à estratégia política da atual direção, que teve na Geringonça o seu expoente máximo. Ainda na última convenção do partido, realizada em maio de 2021, personalidades ligadas à Associação Política UDP (UDP-AP) apresentaram uma moção que apontava o dedo ao excessivo “parlamentarismo” do BE e que defendia um regresso às ruas, junto dos militantes de base. Na próxima reunião magna, os recados prometem repetir-se.