Os partidos e o Presidente da República receberam bem a ideia do Governo – revelada em entrevista à VISÃO – de atribuir um apoio extraordinário de 240 euros às famílias mais carenciadas, ainda este ano. O líder do PSD até reivindicou a paternidade da medida. Já a esquerda preferia que esta ajuda fosse permanente e que se refletisse antes em atualizações salariais.
“Admito que, se forem famílias ou pessoas com rendimentos muito, muito, muito baixos, de 240 euros a 400 euros, que faça a diferença nas suas vidas”, reagiu o Presidente da República às declarações de Costa à VISÃO.
Segundo o primeiro-ministro, esta medida é dirigida à população que recebeu, por duas vezes, os cabazes alimentares de 60 euros e que beneficia da tarifa social de energia – o que abrangerá cerca de um milhão de famílias.
A atitude do Executivo também não encontrou oposição no presidente social democrata, que até quis ficar com os louros da medida: a “ideia inicial foi do PSD”, disse Luís Montenegro, a partir de Bruxelas, onde está a assistir à cimeira do PPE, considerando que “quando o Dr. António Costa se inspira nas ideias do PSD faz algumas coisas bem”. Ainda assim, o líder “laranja” aproveitou a ocasião para sugerir outra ideia – a redução do IRS para a classe média.
Oposição admite importância do apoio, mas ressalva que por si só é insuficiente
Tanto o Chega como a Iniciativa Liberal, por sua vez, preferiam que este apoio fosse estendido à classe média, com o deputado desta primeira força política Rui Paulo Sousa a destacar que o país caminha para o empobrecimento.
Já, em nome da segunda, Rui Rocha (candidato à liderança da IL) recordou o reverso da moeda: a possibilidade de os portugueses ficarem “dependentes do assistencialismo” do Estado. E a parlamentar da IL Carla Castro (a outra candidata à presidência do partido) agarrou antes noutra parte da entrevista (quando Costa se refere aos liberais como “queques” que “quando tentam guinchar ficam ridículos perante o vozeirão popular que o Ventura consegue fazer”), incentivando o primeiro-ministro a “preocupar-se com a sua própria equipa e o estado do país” em vez de apostar em “soundbites popularuchos” e “absolutamente impróprios”.
À esquerda, as críticas prendem-se com o facto de esta ser apenas uma transferência pontual. “O Governo, mais uma vez, pretende dar por apoio para impedir aquilo que é de direito”, reclamou o líder parlamentar bloquista, Pedro Filipe Soares, defendendo a necessidade de aumentar os salários e as pensões para proteger os portugueses do efeito da inflação. Na mesma linha de raciocínio, Paula Santos, líder parlamentar do PCP, sublinhou que “a elevada inflação que se sente e o aumento especulativo dos preços não é um problema de um único mês, ou deste mês em que se aproximam as festas. É um problema que vem de trás e vai continuar a sentir-se”.
“É preciso ir mais longe”, resume Inês Sousa Real do PAN. E Rui Tavares do Livre completa com a necessidade de apostar em medidas preventivas que ajudassem estruturalmente a nossa economia”; mais do que “medidas reativas”.
O apoio extraordinário vai ser aprovado esta quinta-feira em Conselho de Ministros e será pago de forma automática a partir de 23 de dezembro. Tem um custo associado de 240 milhões de euros, adiantou António Costa, na entrevista à VISÃO, em que revelou ainda que o défice este ano ficará abaixo do esperado: “tínhamos previsto um défice de 1,9 e não será superior a 1,5, seguramente”.