A audição parlamentar de Ana Abrunhosa, esta quarta-feira, 28 de setembro, prometia ser longa, tendo em conta a ordem dos trabalhos, mas iria passar com certeza ao lado da polémica do dia, causada por uma notícia do Observador, de que o marido da ministra da Coesão terá recebido fundos europeus para duas empresas em que é sócio. Tudo porque a governante não foi chamada à Assembleia da República para falar sobre tal assunto.
Contudo, o deputado da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto, recusou deixar passar em branco aquilo que declarou de o “elefante na sala” naquela reunião. Ora, do lado socialista, a deputada estreante Isabel Guerreiro não esteve para meias-medidas: exigiu à presidente da Comissão Parlamentar, Isaura Morais, que desse ordens para ser apagada a declaração do deputado liberal. “Eu não posso vir para aqui falar do concerto que fui ver este verão”, atirou a deputada, provocando alguma surpresa à governante, que se mostrou contra tal gesto, por respeito à democracia.
Só existem duas alternativas aqui ou as empresas do seu marido devolvem os fundos ou a senhora ministra se demite. É que a terceira opção é passar o resto do seu mandato com isto como uma nódoa ética no seu governo
Carlos guimarães pinto, deputado da IL
Daquilo que percebi, não posso vir para aqui, eu deputada, alegar factos que não estão na ordem de trabalhos. Não posso falar sobre o café ou o chá que podemos ter tomado ontem à tarde
Isabel guerreiro, deputada do PS
Como resultado deste episódio, a liderança da bancada parlamentar do PS, através de Pedro Delgado Alves, já veio pedir desculpas aos liberais pelo sucedido.
Veja aqui, na gravação do Canal Parlamento, como tudo começou, ao minuto 45.
No Twitter, a Iniciativa Liberal pôs um excerto do sucedido.
O liberal Gonçalo Levy partilhou no Twitter a reação da deputada.
A história conta-se em poucas linhas: na primeira parte da audição feita a requerimento do PSD sobre ordenamento do território, Carlos Guimarães Pinto aproveitou para, antes de colocar questões regimentais à ministra confrontá-la com o caso do dia. “É impossivel não mencionar o elefante na sala e nos fundos europeus para as empresas do seu marido”, disse, sobre o facto de o marido da governante, António Trigueiros de Aragão, ter recebido o financiamento de quase 200 mil euros em fundos europeus, através das empresas Thermalvet e XIPU, quando Ana Abrunhosa já era ministra.
“Só existem duas alternativas aqui ou as empresas do seu marido devolvem os fundos ou a senhora ministra se demite. É que a terceira opção é passar o resto do seu mandato com isto como uma nódoa ética no seu governo”, disse Guimarães Pinto. “É uma chatice que por ser marido de uma ministra não poder aceder a fundos europeus mas há muitos empresários que não acedem a fundos europeus”, frisou o liberal, passando depois a perguntas regimentais.
Logo depois, quando a social-democrata Isaura Morais, que presidia aos trabalhos, se prepararava para chamar à atenção do deputado, a socialista algarvia, Isabel Guerreiro, insistiu em intervir para mostrar a sua revolva. “Esta convocatória está elaborada com dois pontos. Daquilo que percebi, não posso vir para aqui, eu deputada, alegar factos que não estão na ordem de trabalhos. Não posso falar sobre o café ou o chá que podemos ter tomado ontem à tarde”, lamentou a parlamentar, que ainda insistiu na metafora. “Eu não posso vir para aqui falar do concerto que fui ver este verão”, disse, pedido a Isaura Morais que fosse “retirada a gravação” da declaração de Guimarães Pinto.
No momento, e também nas duas horas seguintes em que decorreu outra audição , mas sobre política geral do Ministério da Coesão, a ministra não só não falou sobre o assunto, como se mostrou contra o apagamento da gravação.
Após este episódio, a direção da bancada do PS endereçou desculpas a Carlos Guimarães Pinto.