Na tarde de terça, 18, José Silva, 66 anos, comerciante à beira da reforma, apareceu nas imediações da estação de comboios de Aveiro com uma bandeira do Chega na mão e uma vassoura tamanho XL na outra. “É para varrer esta bandalheira!”, assumiu. O relógio caminhava para as quatro e meia, André Ventura estava quase a aparecer para a arruada do dia, e ele ia explicando o que o trouxera ali. “O Estado Novo não foi um passado muito bonito, mas havia ordem, disciplina e respeitinho”, garante. Agora, acredita que o deputado único da direita radical populista é o único capaz de honrar esses tempos. “O 25 de Abril foi mal aproveitado. Até parece que a nação é só de meia dúzia, donos disto tudo, mas o país pertence a um povo inteiro”.
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André Ventura chegou de automóvel às 16.31, mas uma hora antes já a sua voz ecoava no largo fronteiro ao caminho de ferro, graças ao “metralhar” de excertos das suas posições “recortadas” dos debates televisivos. Esperavam-no algumas dezenas de apoiantes, figuras nacionais do partido e o cabeça-de-lista Jorge Valsassina Galveias, além de dirigentes e candidatos por outros distritos. Bem-disposto, começou por assinalar aos jornalistas o facto de Aveiro ser “das regiões mais afetadas pela pandemia” e a cidade que “teve, durante vários meses, um terrorista a receber um subsídio de integração”. O líder do Chega referia-se a um elemento jihadista que recebeu asilo em Portugal e foi condenado a 30 anos de prisão em França. À boleia deste argumento, Ventura aproveitou para renovar a urgência de fiscalizar “a sério” os apoios sociais, gerando-se um intenso pingue-pongue sobre a matéria com os repórteres, a que ele não fugiu, mas sem referir os tais “casos concretos” de fraude no RSI que diz conhecer.
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Direita com “caminho para andar”
Apesar de alguma tensão, o presidente do Chega não perdeu as boas vibrações que trazia. A VISÃO perguntou-lhe se eram fruto do debate do dia anterior, na RTP, em que, segundo alguns apoiantes, a direita se mostrou, finalmente, unida. O deputado sorriu, engasgou-se por uns segundos e confessou: “Creio que houve um virar de página que pode ajudar a direita a ganhar a dinâmica para vencer as eleições de dia 30″, disse. Minutos antes, já Ventura falara da necessidade de “evitar elementos de fricção e a destruição de pontes” na sua área ideológica. O debate a nove deu-lhe sinais de que algumas posições, “no que toca à área económica, à saúde ou mesmo à governabilidade, mostraram uma direita que conseguiu estar mais ou menos comum nas críticas e na solução”. Embalado, assinalou o significado dessa noite. “Posso estar enganado – e acho que é Rui Rio que tem que responder a isto -, mas pareceu-me que temos caminho para andar”.
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Caminho para andar havia. Mas, no momento, era o da arruada até ao Rossio, onde o esperava o moliceiro batizado Nossa Senhora das Areias, com as habituais pinturas de brejeirices e motivos eróticos, que o levaria, e à comitiva, pela ria, até ao hotel. Não se viram grandes entusiasmos, mas também não ocorreram manifestações hostis assinaláveis. Apenas as bocas habituais nestas passeatas e também elogios de quem acredita em Ventura “a 95 por cento”. Para ele, nada de novo. “Há os que gostam e os que odeiam. Pelo menos não ficam indiferentes”. Um “passou bem” aqui, outro acolá, Ventura não se aventurou nas lojas e cafés, com exceção de uma boutique previamente combinada. Na verdade, Aveiro viu-o passar com relativa indiferença. Pelos vistos, um amor não correspondido: “Esta cidade é lindíssima”, confessou a um dos elementos da comitiva. “Ainda venho para aqui viver a reforma”.