A extrema-direita cedo percebeu o que mais lhe convinha no contexto da pandemia – assumindo o habitual posicionamento contracorrente, manteve-se próxima de pessoas e grupos que se dedicam à produção e disseminação de teorias da conspiração relacionadas com a Covid-19 (e que, por regra, negam a existência ou a gravidade da doença). A exemplo de outros políticos populistas – como Donald Trump ou Jair Bolsonaro –, em Portugal, também André Ventura, líder do Chega, ignorou as recomendações da comunidade científica, optando por não tomar a vacina. Mesmo assim, na passada sexta-feira, dia 6, participou em novo ajuntamento, promovido pelo seu partido, que, desta vez, reuniu dezenas de pessoas numa manifestação no centro do Porto. Menos de 48 horas depois, Ventura anunciava ao País, através de um vídeo publicado nas redes sociais, estar infetado com o novo coronavírus.
O alerta para as ligações entre extrema-direita e negacionistas da Covid-19 já constava no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), referente a 2020, publicado em março deste ano. O documento sublinhava que “o confinamento imposto aumentou o tempo de exposição da sociedade em geral, e dos jovens em particular, aos meios online e abriu um leque de oportunidades para que os movimentos radicais de extrema-direita disseminassem conteúdos de propaganda e desinformação digital, com vista a aumentar as suas bases de apoio, galvanizar os sentimentos antissistema e a reforçar a radicalização com base xenófoba, recorrendo ao discurso apelativo da violência e do ódio, num momento em que a sociedade portuguesa é, também, confrontada com fenómenos de polarização ideológica”. Neste contexto pandémico, assinalava o RASI que [os movimentos de extrema-direita] “também se aproximaram de movimentos sociais inorgânicos, nomeadamente dos grupos negacionistas da pandemia”.