Em declarações à agência Lusa, Manuel Alegre manifestou um “sentimento de luto” pela morte de Otelo Saraiva de Carvalho, um sentimento que considera estender-se a “todos os portugueses que se reconhecem no 25 de Abril e na liberdade”.
“Eu não penso que em relação ao papel que Otelo desempenhou na libertação do país seja preciso distanciamento histórico. Não é preciso distanciamento nenhum. Quem se identifica com o 25 de Abril, quem gosta da liberdade sabe que o Otelo rima com esse dia, com o dia 25 de Abril e rima com liberdade”, defendeu.
Para o histórico do PS e ex-candidato presidencial, o capitão de Abril, que hoje morreu aos 84 anos, já “faz parte da história de Portugal”.
“O país deve-lhe a liberdade. Esse é o bem mais precioso. O país deve-lhe, a ele e a todos os que participaram no 25 de Abril, mas a ele como coordenador operacional do movimento do 25 de Abril, e como símbolo que ele foi nesse dia do próprio 25 de Abril, deve-lhe a liberdade e deve-lhe aquilo que se seguiu que foi a democracia e a paz”, elogiou.
Manuel Alegre recordou que “Otelo foi o estratega, o coordenador operacional do 25 de Abril e ficará sempre ligado a esse momento, ao dia da liberdade”.
“Quer se queira quer não, o Otelo já está na história porque aquilo que fica dos atos que se praticam são os atos que transformam a história ou que fazem história e ele fez história nesse dia. Não sozinho, evidentemente, com todos os seus camaradas, mas ele é um símbolo, é uma figura carismática e o símbolo do 25 de Abril”, afirmou.
Na perspetiva de Manuel Alegre, não se pode comparar “a dimensão histórica de um dia que mudou o país” com atos, que não sendo “para branquear nem para apagar”, “são atos menores e que vão ficar no rodapé dos livros de história, se é que ficam”.
“O que fica é esse ato que realmente mudou a vida do nosso país, libertou o nosso país e mudou as nossas vidas”, apontou.
Otelo Saraiva de Carvalho, militar e estratego do 25 de Abril de 1974, morreu hoje de madrugada aos 84 anos, no Hospital Militar, em Lisboa.
Nascido em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, atual Maputo, Moçambique, Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, onde se cruzou com o general António de Spínola, até ao pós-25 de Abril de 1974.
No Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril.
Depois do 25 de Abril, foi comandante do COPCON, o Comando Operacional do Continente, durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), surgindo associado à chamada esquerda militar, mais radical, e foi candidato presidencial em 1976 e 1980.
Na década de 1980, o seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril), organização armada responsável por dezenas de atentados e 14 mortos, tendo sido condenado, em 1986, a 15 anos de prisão por associação terrorista. Em 1991, recebeu um indulto, tendo sido amnistiado cinco anos depois, uma decisão que levantou muita polémica na altura.
JF // NS