Numa reunião por videoconferência, a dia 26 de maio, o presidente da companhia aérea Ryanair, Michael ‘Leary , lamentou, na presença do ministro das Infraestruturas português, Pedro Nuno Santos, o dinheiro que o Governo está a “desperdiçar” com a TAP, “uma companhia aérea falhada e com preço elevados”. O’Leary não resistiu a aconselhar o Executivo a dar outro destino ao dinheiro dos contribuintes que está a ser dirigido para o grupo de aviação nacional: escolas, hospitais ou infraestruturas de interesse público, como o aeroporto do Montijo, sugeriu.
Estas críticas saíram da reunião e transformaram-se em guerra aberta. No mesmo dia, o ministério de Pedro Nuno Santos elaborou um comunicado, em que deixava claro que não aceitava “intromissões nem lições” da Ryanair. Lamentando ainda que o grupo irlandês se esteja a aproveitar de uma “situação difícil”, quis relembrar que se trata de “uma empresa privada e que não tem de interferir nas decisões soberanas tomadas pelo Governo português”.
Mas a história não ficou por aqui: as justificações do ministro e as criticas à Ryanair continuam e até lhe valeram a reprovação da líder parlamentar do PS, Ana Catarina Mendes.
As justificações
A conversa paralela entre a Ryanair e Pedro Nuno Santos não ficou encerrada com o comunicado. Ainda esta segunda-feira, o governante, em declarações aos jornalistas, justificou a sua reação, dizendo não gostar de “deixar ofensas ao Estado português e ao Governo sem resposta”.
O ministro continuou a defender a TAP, referindo que um País como Portugal “não se pode dar ao luxo de perder empresas que exportam 3 000 milhões de euros”. “Nós não somos a Suíça, nem a Noruega, para podermos, sem esforço, dar-nos ao luxo de perder empresas com esta dimensão. Nós somos um país com grandes dificuldades em matéria de balança de pagamentos”, sublinhou, rejeitando que a injeção de dinheiro na TAP possa ser vista como o Governo a “gastar dinheiro”.
Clima aquece entre socialistas
A forma como a tutela conduziu o assunto não foi bem vista por muitos, inclusivamente dentro do próprio PS. A líder parlamentar socialista, Ana Catarina Mendes, defendeu que Pedro Nuno Santos deveria ter tido mais “ponderação” e “sensatez” na forma como se dirigiu ao empresário. No programa Circulatura do Quadrado, a parlamentar considerou que o ministro “não se pode pôr no mesmo patamar” do responsável da Ryanair “porque é ministro”.
“Eu não gosto de ver ataques como os que foram feitos pela Ryanair, mas não acho que reagir de forma mais truculenta resolva problema nenhum, antes pelo contrário. E, por isso, maior recato ou sensatez, bom senso, nestas reações”, apontou Ana Catarina Mendes, que, em dezembro, se manifestou contra o plano de restruturação da TAP, no Parlamento. Por sua vez, Pedro Nuno Santos tem-se recusado a comentar o episódio raro de críticas internas e a “alimentar essa discussão”. Diz-se ainda “incapaz de criticar em público um camarada”.
Como tudo começou?
O braço de ferro entre o Executivo e a Ryanair nasceu depois do Tribunal da Justiça europeu ter congelado a ajuda de 1,2 milhões de euros da Comissão Europeia à TAP, na sequência de uma queixa da companhia irlandesa. A justiça considerou, para já, a decisão de Bruxelas “insuficientemente fundamentada”. Na sequência disto, Pedro Nuno Santos acusou a Ryanair de querer uma “guerra comercial” e O’Leary respondeu que se tratava apenas de “concorrência”.