“Há três anos este debate teria sido absolutamente desnecessário”. A voz é de Miguel Pinto Luz, militante do PSD, que disputou a liderança do partido e a perdeu para Rui Rio. Seguidor do ex-primeiro-ministro laranja, Pedro Passos Coelho (sentado na primeira fila do auditório do Centro de Congressos de Lisboa e que arranca um aplauso sonoro cada vez que alguém refere o seu nome), Pinto Luz vira as baterias todas para a Rio, que, no seu entender, foi “incapaz” de dar ao eleitorado do centro o que ele queria. E, por isso, o PS cresceu e nasceram novos partidos – a Iniciativa Liberal e o Chega. “Se hoje estamos a falar deste conjunto alargado de partidos é porque o PSD foi incapaz de dar soluções aos liberais, aos mais conservadores e até aos sociais-democratas mais ferrenhos”.
Falta ao partido uma “agenda mobilizadora”, um líder carismático e concretiza: “eu não tenho duvidas de que Rui Rio seria muito melhor primeiro-ministro do que António Costa, mas a verdade é que não tem adesão interna”, assinalou o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais. Sem deixar de lado o elefante na sala onde decorre a III Convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL): o Chega, que está, pela primeira vez, representado nesta reunião magna das direitas. “O Chega é um partido de protesto. Tem um líder carismático, mas que não tem muitas ideias para o País. No debate do Orçamento do Estado, o André Ventura e o Chega desaparecem praticamente do espaço mediático”.
Representado neste painel sobre “A necessidade de convergência à direita e ao centro: o País em primeiro lugar” por Nuno Afonso, o chefe de gabinete de Ventura e um dos vice-presidentes do Chega responde à provocação de frente e arranca um aplauso à sala: “O Chega apresentou muitas propostas para o Orçamento do Estado. Com apenas um deputado, só apresentámos menos três propostas do que o PSD.”
Sobre a possibilidade de entendimentos, Nuno Afonso prefere reafirmar a frase que muitas vezes já ouvimos a Ventura: “ninguém vai fazer um governo de direita em Portugal sem o Chega”. E acrescenta: o mau estar causado pela presença do Chega nesta convecção é “de certa forma alimentar o sapo que mais tarde vão ter de engolir”.
Miguel Morgado, ex-deputado do PSD e acérrimo defensor de uma plataforma de entendimento das direitas, acredita que “todos sabem que este projeto é indispensável” e que, independentemente dos moldes, o fundamental é a união. Tendo deixando algumas pistas de temas agregadores: “o reformismo e o europeísmo”.
Por sua vez, para Cecília Meireles – deputada do CDS – o ónus da questão está mesmo nos temas que podem ou não unir os diferentes partidos de direita. “A direita tem de parar de discutir-se a si própria e começar a discutir o que quer para o País. E ser clara, concerta, imediata”, em vez de “andar a reboque” e limitar-se a ser “um espaço de protesto”.