Marcelo Rebelo de Sousa ainda não desvendou o segredo mais mal guardado da política portuguesa nem o PSD anunciou o apoio à sua recandidatura, mas, discretamente, o ataque ao segundo mandato em Belém já está a ser preparado. Segundo apurou a VISÃO, o Chefe de Estado quer ter Salvador Malheiro, presidente da Câmara Municipal de Ovar, como diretor de campanha e já terá sondado o vice-presidente dos sociais-democratas nesse sentido.
Publicamente, o Presidente tem remetido para novembro a confirmação de que voltará a ser candidato (depois de ter afirmado que o faria no verão ou em outubro), mas o episódio na Autoeuropa – em que António Costa deu como certa a reeleição e abriu caminho ao apoio do PS – acelerou as démarches para a campanha. E se o PSD disfarçou mal o desagrado por Marcelo ter deixado que o primeiro-ministro e secretário-geral socialista se colasse à candidatura de um antigo líder social-democrata, o Presidente tenta agora reconciliar-se o com a sua família política.
Em declarações à VISÃO, o chefe de Estado mantém o tabu em torno da recandidatura. Garante que “só tomará a decisão depois da convocação das eleições”, o que, aponta agora, “não acontecerá antes de novembro”. “A decisão será posterior a isso”, assegura Marcelo. E aí, nota, “das duas, uma: se não for candidato, o problema estará resolvido”; se for candidato, manterá a estratégia de debater “com todos” os adversários. E a campanha, reforça, “será uma coisa curta, uma semana ou dez dias”.
Insistindo num modelo com pouca estrada e minimalista nas ações de rua, devido à pandemia, Marcelo contorna a questão sobre Malheiro, sem desmentir que possa vir a recrutar o responsável pelas duas campanhas internas de Rio: “Ainda não sei se serei candidato, quanto mais…”
Apesar da contenção pública, o Presidente está atento às críticas e aos reparos que têm vindo a surgir de figuras com peso no centro-direita e procurará, por um lado, desanuviar as relações com Rio e, por outro, reaproximar-se daqueles que ficaram desencantados com a sua atuação nos primeiros cinco anos no Palácio de Belém. O próprio Rio, em entrevista à TSF, a 5 de junho, assinalou que, em certos momentos, “muitos militantes e simpatizantes do PSD gostariam que houvesse uma maior demarcação do Governo” do que aquela que o Presidente fez, mas adiantou que deveria endossar o apoio a Marcelo, ainda que outros sociais-democratas venham a entrar na corrida.
“Sim, é o mais provável. Não vale a pena estar com coisas, é obviamente o mais provável”, antecipou o líder do PSD, que só não arrumou o assunto ali, como explicou, porque “o professor Marcelo Rebelo de Sousa ainda não foi taxativo a dizer que é candidato”. “No dia a seguir a ele apresentar a recandidatura, o PSD tem de tomar uma posição pública sobre essa mesma candidatura. Até porque já estamos em junho, já faltam pouco mais de seis meses”, fundamentou o líder “laranja”, que nesse mesmo dia, em privado, almoçou com o chefe de Estado, em Lisboa, que frisou acompanhar “com muita atenção” aquilo que é dito pelo líder do maior partido da oposição.
Duas semanas antes, a 22 de maio, Marcelo e Rio também estiveram juntos à mesa, justamente em Ovar, a convite de Malheiro, depois de o município chefiado pelo “vice” social-democrata ter estado um mês em calamidade pública e submetido a uma cerca sanitária, com controlo de circulação no território e encerramento da maioria da atividade empresarial.
Nessa ocasião, já estava em curso do processo de reaproximação. Sobre Malheiro, o Presidente disse ter sido “um herói” no combate à Covid-19, por ter acompanhado “a par e passo, dia a dia” todas as fases da pandemia. “Nunca desistiu, nunca se resignou, teve uma coragem inimitável”, observou, acrescentando que “descobriu testes e máscaras onde não existiam e proteção sanitária sabe-se lá onde”.
Contactado pela VISÃO, Malheiro também não se alongou acerca do dossier presidenciais 2021 ou sobre a possibilidade de suceder a Pedro Duarte (antigo deputado e ex-líder da JSD) como principal operacional da campanha, mas negou “qualquer tipo de contacto relativamente a essa matéria”.