Menos de 24 horas depois de o CDS-PP ter comunicado que Abel Matos Santos tinha apresentado a demissão da Comissão Executiva do partido, esta quarta-feira foi a vez de Luís Gagliardini Graça anunciar que também vai deixar a direção do partido, neste caso a Comissão Política Nacional.
Através da sua conta no Facebook, Gagliardini Graça, fundador, a par de Matos Santos, da Tendência Esperança em Movimento (TEM) e membro da direção mais alargada de Francisco Rodrigues dos Santos, fez saber que saía em solidariedade com o antigo porta-voz da corrente mais conservadora dos centristas.
“Obviamente que me demito por não pactuar com uma campanha indecente contra a dignidade e o caráter de um homem que muito respeito, um dos poucos homens livres deste País”, escreveu o dirigente centrista, vincando ser “absolutamente solidário” nas “alegrias” e também “nos momentos menos felizes”.
No final da breve nota publicada esta madrugada, Gagliardini Graça deseja ainda “a maior fortuna” ao recém-eleito presidente dos democratas-cristãos, “a bem de Portugal”.
Mais radical foi a decisão de Pedro Formozinho Sanchez. O antigo conselheiro nacional do partido lamenta aquilo que classifica como “uma campanha no mínimo miserável contra um homem bom, lutador, de causas nobres, patriota e estrénuo defensor do CDS e dos seus valores fundaicionais” movida contra Matos Santos e, por isso, comunicou que vai desfiliar-se.
Dirigindo-se ao líder do partido, aponta aos opositores internos (que não nomeia) e avisa que é a queda de Rodrigues dos Santos que eles pretenderão. “Ainda alimentei a esperança de que toda esta campanha contra o Abel tivesse um fim, mas com os dias a passar verifiquei que se intensificava a cada hora e que o objetivo deste grupo de pressão interna – gente desqualificada de maus perdedores – tinha também um outro objetivo, ou seja, minar a tua recente eleição (…)”, escreveu igualmente no Facebook. Assim, Formozinho Sanchez conclui: “Portanto, o alvo deste ataque és tu e é a tua cabeça que eles vão pedir a seguir.”
Toda a polémica com Matos Santos, recorde-se, teve início com um artigo do Expresso, há uma semana, que revisitava as publicações e comentários no Facebook, entre 2012 e 2016, do antigo porta-voz da TEM, o mini-Tea Party centrista, nos quais chamava ao cônsul Aristides Sousa Mendes, que emitiu milhares de vistos para judeus durante a II Guerra Mundial, “agiota de judeus”, fazia odes a Salazar e qualificava a PIDE como “uma das melhores polícias do mundo”.
Nas hostes democratas-cristãs, a indignação não tardou. O mais audível foi António Pires de Lima, ex-ministro da Economia, que exigiu a cabeça de Matos Santos. Já a Comunidade Israelita de Lisboa emitu um comunicado em que lamentou as posições de teor “ofensivo”, mostrando-se “surpreendida” pela posição do dirigente do CDS.
Rodrigues dos Santos ainda segurou o seu dirigente numa primeira fase – em que a direção desvalorizou as opiniões “antigas”, algumas com “mais de dez anos” e que, na sua opinião, foram noticiadas “com o firme propósito de prejudicar todo o CDS” -, mas, perante a pressão interna e externa, teve de ceder.