Durou pouco mais de uma semana a passagem de Abel Matos Santos pela direção do CDS-PP. Depois de ter sido puxado para a Comissão Executiva no último Congresso, em Aveiro, os elogios ao Estado Novo, a António de Oliveira Salazar, à Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE) e as considerações sobre Aristides de Sousa Mendes, que classificou como “agiota de judeus”, ditaram a saída do órgão de gestão mais restrito do partido presidido por Francisco Rodrigues dos Santos.
Num breve comunicado, a Comissão Executiva, que se reuniu esta terça-feira, frisa que o partido “é fronteira de todos os extremismos, farol dos valores da democracia-cristã, do humanismo personalista e do primado da dignidade da pessoa humana” e que esses valores “foram reafirmados na moção vencedora” do conclave, a do presidente, intitulada “Voltar a Acreditar”. A direção nota também que esses princípios “servem de guia e de limite” à ação política do partido e que “a todos vincula”.
Assim, conclui, na sequência da sua primeira reunião, o CDS “informa que Abel Matos Santos apresentou a sua renúncia ao cargo de vogal”, com o intuito de não permitir que “as suas afirmações passadas possam suscitar dúvidas sobre a tradição política em que o CDS, inquestionavelmente, se insere”.
Toda a polémica com Abel Matos Santos, recorde-se, teve início com um artigo do Expresso, há uma semana, que revisitava as publicações e comentários no Facebook, entre 2012 e 2016, do antigo porta-voz da Tendência Esperança em Movimento (TEM), o mini-Tea Party centrista, nos quais chamava ao cônsul Aristides Sousa Mendes, que emitiu milhares de vistos para judeus durante a II Guerra Mundial, “agiota de judeus”, fazia odes a Salazar e qualificava a PIDE como “uma das melhores polícias do mundo”.
Nas hostes democratas-cristãs, a indignação não tardou. O mais audível foi António Pires de Lima, ex-ministro da Economia, que exigiu a cabeça de Matos Santos. Já a Comunidade Israelita de Lisboa emitu um comunicado em que lamentou as posições de teor “ofensivo”, mostrando-se “surpreendida” pela posição do dirigente do CDS.
Francisco Rodrigues dos Santos ainda segurou o seu dirigente numa primeira fase – em que a direção desvalorizou as opiniões “antigas”, algumas com “mais de dez anos” e que, na sua opinião, foram noticiadas “com o firme propósito de prejudicar todo o CDS” -, mas, perante a pressão interna e externa, teve de ceder. Ao fim de nove dias, Matos Santos caiu.