O desafio foi lançado a Rui Rio e Pedro Santana Lopes, ainda em dezembro: um questionário com perguntas iguais para cada um dos candidatos à presidência do PSD. Objetivo, confrontar as visões de ambos sobre diferentes temas, colocando-as lado a lado, para que ficassem evidentes quer as semelhanças quer as diferenças. Inicialmente, tanto Rui Rio como Santana Lopes se comprometeram a responder às questões da VISÃO. Com o aproximar da data estipulada para a entrega das respostas, o ex-primeiro-ministro acabou por comunicar que, afinal, declinava o convite para participar.
Assim, e para ser o mais fiel possível ao formato idealizado inicialmente, a VISÃO decidiu avançar com a publicação do questionário, a que Rui Rio respondeu, tentando colmatar a ausência de respostas do ex-autarca de Lisboa recorrendo a entrevistas anteriores do candidato, a crónicas de opinião e a comentários no espaço semanal que mantinha na SIC Notícias, ao lado de António Vitorino. No fundo, fomos ler e ouvir o que Santana Lopes já tinha dito sobre a maior parte dos temas abordados no questionário. Mesmo seguindo este método de forma exaustiva, houve perguntas que ficaram sem resposta. Mas fica o essencial.
Qual a principal marca que Passos Coelho deixa?
Rui Rio: Resiliência.
Pedro Santana Lopes: Apesar de nunca ter respondido diretamente a esta pergunta, Santana Lopes não recusa a herança que Passos Coelho deixa. Embora defenda que é necessário mudar algumas coisas no partido não critica a linha geral seguida pelo ex-primeiro-ministro. No dia 10 de outubro de 2017, quando anunciou a sua candidatura no espaço de comentário da SIC Notícias, apesar de elogiar a liderança do ex-primeiro-ministro, o candidato reconheceu que há coisas que devem mudar, como dar mais voz aos jovens quadros.
Complete a frase: Centeno no Eurogrupo é…
RR: É o reconhecimento europeu dos enormes esforços que os portugueses fizeram nos últimos seis anos.
PSL: No passado dia 2 de dezembro, à margem de um encontro com jovens no Fundão, Santana Lopes falou aos jornalistas sobre a candidatura de Centeno ao Eurogrupo. O ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia (SCML) afirmou que“sempre que um português se candidata” a um cargo internacional “deve ser motivo de satisfação.”
Maior qualidade
do seu adversário?
RR: A sua eloquência perante grandes auditórios.
PSL: A 11 de novembro de 2016, quando comentava uma entrevista de Rui Rio, Santana criticou a quantidade de vezes em que o agora adversário falhou ao partido mas elogiou o “pensamento próprio” do agora adversário. Ainda que nem sempre concorde com ele, reconhece que é alguém que se explica bem e cujas posições “são fundamentadas.”
E o seu maior defeito? (do próprio)
RR: Talvez, algum défice de flexibilidade.
PSL: Nunca especificando um erro em específico, Santana Lopes já admitiu que ter falhado no passado. No dia em que apresentou a candidatura aos militantes (22/10/17), no Centro Nacional de Exposições, em Santarém, iniciou o discurso com uma frase que marcou a intervenção e que fez manchetes: “O meu nome é Pedro Santana Lopes e assumo tudo o que fiz.” Implicitamente há um reconhecimento de que nem sempre fez as coisas da forma correta.
Consigo, o Bloco Central é um cenário impossível?
RR: Só seria possível num cenário absolutamente extraordinário.
PSL: Numa entrevista ao Jornal de Notícias no dia 24/12/17, Santana Lopes respondeu diretamente a esta questão: “Nunca aceitaria solução do bloco central.” Convém relembrar que no período pós-eleitoral em abril de 1983, que deu lugar à formação de um governo de Bloco Central dirigido por Mário Soares, o agora candidato já se tinha perfilado como um dos principais opositores internos desta solução.
Que posição tem sobre a morte medicamente assistida?
RR: Concordo. Mas temos de ser capazes de fazer uma lei muito bem feita e cautelosa.
PSL: O ex-provedor da SCML assumiu no dia 17 dezembro de 2017, numa sessão de apresentação de propostas dedicada aos jornalistas e na qual a VISÃO esteve presente, que é contra a eutanásia. Apesar da posição pessoal, Santana Lopes admitiu a hipótese de promover um referendo sobre o tema. “Não me choca”, disse.
Eleição do presidente do PSD: em diretas, em congresso ou em primárias?
RR: Em diretas, mas com regras que evitem os pagamentos massivos de quotas. Também não me choca que se possa equacionar uma experiência de primárias.
PSL: Santana Lopes foi um dos grandes responsáveis por introduzir as eleições diretas no PSD. No entanto, a ideia mais recente que defendeu sobre a eleição do líder laranja contraria a vigente. Num jantar-
-comício em Esposende, organizado pelo PSD local a 8 de setembro de 2017, o agora candidato defendeu que o presidente do partido devia ser eleito em congresso. “Acho que está na altura de o partido pensar em voltar a ter os grandes congressos do PPP/PSD e de o presidente do partido voltar a ser escolhido em congresso”, afirmou então.
Que perfil quer para líder da bancada parlamentar?
RR: Acutilância política, eloquência, credibilidade, capacidade de gerir pessoas e experiência.
PSL: Embora não tenha falado especificamente deste tema ao longo da campanha eleitoral, o candidato afirmou, em entrevista ao JN publicada a 24 de dezembro do ano passado, que Hugo Soares tem feito um bom trabalho à frente da bancada do partido. Dias antes, o líder do grupo parlamentar laranja já tinha declarado apoio a Santana Lopes. Apesar desta aproximação não é ainda certo que o jovem deputado de Braga conte com o apoio do ex-
-provedor para manter no cargo.
Qual o ponto mais negativo do PSD?
E o mais positivo?
RR: O mais negativo: estar fechado sobre o seu próprio aparelho. O mais positivo: a vontade, a força e a capacidade para acabar rapidamente com o ponto mais negativo.
PSL: Desde o dia 10 de outubro de 2017, quando anunciou a sua candidatura no espaço de comentário da SIC Notícias, que tem prometido trazer de volta o PPD. Em sucessivas intervenções, incluindo no debate com Rui Rio no dia 4 de janeiro, Santana Lopes usou a sigla PPD/PSD para se referir ao partido. Ou seja, pode considerar-se que um dos defeitos que identifica é o facto de se ter perdido um pouco da sua matriz popular. Pela positiva, o candidato elogiou os novos quadros do partido e defendeu inúmeras vezes a tradição vencedora do partido. “Não queremos ser segundos de ninguém” ou “o PSD é uma alternativa de Governo” são algumas das frases que proferiu na sessão de esclarecimento dedicada aos jornalistas em dezembro passado (dia 17).
Estará pronto para ser candidato
a primeiro-ministro
no dia 14 de janeiro?
RR: Logo em 14 de janeiro não seria aproveitado todo o meu potencial, para tal, são precisos mais alguns meses; como é óbvio.
PSL: Neste campo, Santana Lopes tem sido cauteloso. Assume que o maior desafio do partido é o de vencer eleições legislativas. Mas sempre que se refere a este tema situa o ato eleitoral no fim da legislatura – 2019 –, como se pode ler, aliás, na sua moção.
Ou seja, a prioridade do candidato passa
por chegar ao
Governo mas parece ter noção de que para que uma eventual candidatura tenha sucesso é necessário ter tempo para a preparar.
Candidatos como André Ventura terão lugar no PSD
liderado por si?
RR: Ele próprio tem consciência da dificuldade que teria e, por isso, já declarou o seu apoio à outra candidatura, para, como ele diz, “evitar que Rui Rio seja líder do PSD”.
PSL: Quando o vereador da CM Loures, então candidato, falou dos problemas da etnia
cigana de uma forma polémica Santana Lopes condenou as suas declarações no espaço de comentário da SIC Notícias no dia 9 de julho do ano passado. Apesar de as ter criticado não visou de forma direta o autor, centrando-se
mais no problema que tinha abordado: a integração da comunidade cigana. Refira-se que André Ventura foi um dos primeiros a apoiar Santana Lopes.
Depois da presidência de Passos Coelho, o PSD
está mais liberal?
RR: Sinceramente,
acho que sim.
PSL: Nunca respondeu a esta pergunta diretamente mas sempre que falou da herança de Passos Coelho admitiu que não tem problemas em assumi-la, embora tenha identificado a necessidade de mudar de estratégia. Não renega o passado mas não quer que o futuro seja o seu prolongamento.
Há poucas mulheres em lugares de destaque na política portuguesa. Quantas mulheres pretende integrar na direção do partido?
RR: Integrarei mulheres, como é óbvio, mas ainda não me preocupei em pensar na equipa em concreto.
PSL: Não podemos responder pelo candidato, mas podemos verificar quantas mulheres foram ministras durante o seu Governo. Dos 18 ministros de Santana Lopes apenas três eram mulheres (mais do que no Governo atual, que tem somente duas ministras – Mar e Justiça). Olhando para a Comissão Nacional da Candidatura do candidato também é possível retirar conclusões: dos 225 membros que a compõem apenas 40 são mulheres, uma percentagem ligeiramente inferior a 18%.
Figura política de 2017 em Portugal? (pela positiva)
RR: António Guterres, Secretário-Geral da ONU desde 1 de janeiro de 2017.
PSL: Santana Lopes nunca se referiu a nenhum político como sendo a figura do ano. No entanto, os elogios ao trabalho de Centeno contrastaram com o que se costuma ouvir para os lados da oposição quando o assunto é o ministro das Finanças. “Nas poupanças ou nas cativações, é meritório o trabalho conduzido por Centeno”, disse numa entrevista à TSF e ao DN a 12 de novembro do ano passado.
Quem foi o maior flop?
RR: Seguramente, uma das muitas candidaturas autárquicas derrotadas, em que se depositavam as maiores esperanças; mas não sei exatamente qual.
PSL: Idem. Mas uma das figuras que mais criticou ao longo do ano passado em vários dos seus comentário semanais na SIC Notícias foi a ex-ministra da Administração Interna Constança Urbano de Sousa.
O PSD corre o risco de desaparecer, como disse Morais sarmento?
RR: Os recentes resultados eleitorais, particularmente, nos grandes centros urbanos são um sinal de alerta. Olhar para ele, é o primeiro passo para começar a recuperar. Ignorá-lo, é um perigo.
PSL: Rui Rio também proferiu esta frase. A resposta de Santana Lopes foi dada num jantar de Natal com militantes do PSD, no núcleo oriental da distrital de Lisboa, no dia 13 de dezembro. O candidato foi conciso e incisivo: “o partido corre o risco de crescer, e muito!”
Porque é que não
há candidatos
da nova geração?
RR: Falta de apoios, falta de vontade ou excesso de calculismo. São os três fatores que vejo como possíveis.
PSL: Sobre os novos quadros Santana Lopes tem sido muito elogioso. Desde que anunciou a sua candidatura na SIC Notícias (10/10/17), que tem defendido um partido que dê mais valor às figuras da nova geração e chegou a elogiar diretamente Miguel Morgado e Duarte Marques. Tem tentado evitar o assunto elogiando os mais jovens e chamando-os para
a sua candidatura.
Na sua moção, na página 3, assume o objetivo de rejuvenescer a política: “Quero trazer novas pessoas, incluindo
muitos jovens, para a política”, lê-se.
É a favor de uma reforma do sistema eleitoral? Por exemplo,
a criação de círculos uninominais ou
a alteração do número
de deputados?
RR: Sim. Círculos eleitorais mais pequenos, possibilidade de o eleitor reposicionar os candidatos, e uma lista nacional para repor a proporcionalidade através do aproveitamento dos votos perdidos nos círculos locais.
PSL: Na moção de Pedro Santana Lopes pode ler-se que é favorável a um debate amplo sobre “a reforma do sistema político.” Umas linhas depois, o candidato especifica que o PSD deve promover a discussão sobre a “introdução de círculos uninominais conjugados com um círculo nacional ou círculos regionais proporcionais”, de maneira a contribuir para essa reforma.
A comunicação social precisa
de ter mais balizas
para atuar?
RR: Sim, precisa de balizas éticas e balizas legais; em defesa da verdade, dos direitos das pessoas, da liberdade de imprensa e da própria democracia.
PSL: Santana Lopes tem defendido sempre a participação da comunicação social na política e vice-versa. Quando questionado no seu espaço de comentário, no dia 10 de outubro de 2017, sobre o facto de Rui Rio ter convocado jornalistas para apresentar a sua candidatura mas não ter permitido perguntas, Santana Lopes garantiu que nunca iria bloquear o acesso à Comunicação Social nem evitaria responder a perguntas em sessões semelhantes.
Qual foi o maior erro de Passos Coelho no PSD?
E o maior feito?
RR: O maior feito foi a coragem com que encarou a questão GES/BES. O maior erro, talvez a forma como comunicou as mexidas que pretendia fazer na TSU.
PSL: Apesar de ter criticado cirurgicamente decisões do ainda presidente do PSD, sempre defendeu a linha geral por ele seguida. Talvez a maior crítica a Passos Coelho tenha sido feita no rescaldo das eleições autárquicas, no passado dia 1 de outubro na SIC Notícias, classificando o resultado do partido como sendo “mau demais para ser verdade”. Pela positiva, Santana Lopes manteve sempre a preocupação de estar ao lado do líder, defendendo a coragem da sua governação sob alçada da troika. No debate de dia 4 de janeiro, chegou a classificar o trabalho do ex-primeiro-ministro como um esforço “de salvação do País.” O maior elogio pode passar por aí.
Qual a maior conquista do atual Governo? E o maior fracasso?
RR: A maior conquista terá sido, talvez, a saída de Portugal do Procedimento por défice excessivo.
O maior fracasso foi a incapacidade revelada pelos serviços públicos no combate aos dois grandes incêndios e, particularmente, no socorro às pessoas
PSL: O candidato elogiou os resultados económicos alcançados por este Governo mais de uma vez (ver respostas à pergunta 2 e à pergunta 17). Como maior fracasso, Santana Lopes identificou Tancos, os incêndios e o Orçamento do Estado para 2018 como erros do Governo ao longo do último ano, em diferentes ocasiões.
(Artigo publicado na VISÃO 1297, de 11 de janeiro de 2018)