21 minutos em três línguas – inglês, francês e espanhol – para dizer aos Estados-membros e ao mundo que usará uma “diplomacia criativa” e irá envolver-se “pessoalmente” para tentar resolver os conflitos que afetam o mundo.
Porque a ONU deve preparar-se para “mudar”, António Guterres jurou hoje “exercer em total lealdade, discrição e consciência as funções” de secretário-geral das Nações Unidas, mas não se coibiu de criticar a instituição que irá liderar a partir de 1 de janeiro.
E lembrando que as sociedades estão cada vez mais afastadas dos seus governos e das suas instituições, num mundo globalizado onde “as sociedades estão mais fragmentadas e as pessoas vivem nas suas bolhas”, Guterres pediu aos líderes para “ouvirem e mostrarem que se preocupam com a solidariedade global”. “É tempo de reconstruir as relações entre as pessoas e os líderes”, destacou.
Num discurso em que quis deixar um roteiro para o seu mandato, António Guterres promete “paridade” em todas as decisões, aumentar a participação dos jovens, e apoiar os países para reforçarem as suas instituições. Quer umas Nações Unidos mais eficazes, porque não se pode designar alguém para uma parte do mundo e “esperar nove meses” que essa pessoa chegue.
O ex-primeiro-ministro português lembrou que quando tomou posse em Portugal, nos anos 90, achava-se que o fim da Guerra Fria seria o fim da História, mas “não foi”. Pior do que isso, “a história voltou com vingança”, disse na ONU o “secretário-geral designado”, para descrever o estado do mundo, cheio de “tensões” e guerras que se multiplicam, onde o terrorismo impera. “Há falta de clareza nas relações de poder”, o que traz “maior imprevisibilidade e impunidade” e os “conflitos estão mais interligados e com uma maior violação dos direitos humanos”, disse Guterres.
Já na conferência de imprensa, o português usou a língua materna para reforçar a mensagem de quie “é tempo de reconciliar as pessoas com os líderes políticos” e reconstituir a confiança nas relações internacionais. Questionado sobre Donald Trump, Guterres pediu “verdade”, porque “dizer a verdade é a única maneira de estabelecer confiança nas relações humanas e nas relações internacionais”. E o novo secretário-geral da ONU espera poder fazer isso “com todos os governos e também com a próxima administração dos EUA”.
Antes de António Guterres fazer o seu juramento, muitos líderes tomaram a palavra. Ban Ki-moon fez o seu último discurso e mostrou confiança na “paixão e na compaixão” do seu sucessor, a quem descreveu como um “homem de integridade e de princípios”.
Os elogios também se ouviram em português, pela voz de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, que marcaram presença no edifício das Nações Unidas para assistir ao juramento de Guterres. O Presidente da REpública falou num “dia único”, em que comemora também o seu aniversário: “Ainda ontem falava com Vítor Melícias sobre quando reuníamos há 46 anos sonhando salvar o mundo, quem pensaria que neste dia estaríamos um como secretário-geral das Nações Unidas e outro como Presidente de Portugal”, comentou à entrada. Também o primeiro-ministro salientou que a eleição de Guterres é “um excelente sinal das boas relações que Portugal tem com a generalidade dos países do mundo, que o veem como parceiro leal de diálogo construtivo e que se revê e é porta voz dos direitos fundamentais”. Costa falou em “satisfação pessoal” e sublinhou as “invulgares qualidades pessoais: a capacidade de juntar pessoas, juntar culturas” de António Guterres.