Aos 48 anos, Daniel Adrião vai a votos no PS, nas diretas que dia 19 e 20 de maio. Antigo rival de António José Seguro na JS dos anos 90, garante que não corre contra António Costa, mas para promover o debate dentro do partido, sobretudo quanto à necessidade de reformar o sistema político. Ao primeiro-ministro pede voz forte na Europa para renegociar uma “dívida impagável”,
O que procura nesta candidatura, que não conseguiria se subscrevesse a moção de António Costa?
Há questões que nos diferenciam, como a necessidade de reforma do sistema político.
Reformar o sistema político quando o PS está a governar com dois partidos a quem essa reforma não interessa será a melhor altura?
Esta reforma estava na primeira versão do programa de Governo do PS. Caiu na negociação com o PCP e BE. Mas está por demonstrar que esses partidos seriam prejudicados por uma revisão da lei eleitoral que passe pela combinação de círculos uninominais com um círculo nacional de compensação. Com 130 círculos uninominais e um círculo de compensação nacional de 100 deputados, hoje havia mais três partidos representados na Assembleia, tendo em conta os resultados das últimas eleições.
Mas não seria ainda mais difícil construir maiorias?
Ganharíamos mais flexibilidade na construção desses acordos e mais elasticidade no sistema parlamentar. O que não podemos é ter maiorias parlamentares que não correspondem às maiorias sociais. Hoje forma-se uma maioria parlamentar com 25 ou 26% do eleitorado. Como é que podemos deixar a esmagadora maioria do eleitorado fora das maiorias que nos governam?
O PS tem sido suficientemente duro na negociação na Europa?
António Costa devia liderar o PS europeu num movimento que levasse a alterações na arquitetura da própria União Europeia e do próprio Tratado Orçamental.
Faz sentido discutir agora a renegociação da dívida?
O PS sozinho não, mas no contexto do PS europeu, sim. Esta dívida é impagável. Temos uma dívida pública que é a segunda maior da UE, mas a essa há a somar outra dívida ainda pior: a dívida privada, das famílias e das empresas. Esta questão não pode ser adiada por mais tempo e os partidos socialistas europeus têm que perceber que tem que haver uma renegociação das dívidas dos países periféricos. No quadro do PS europeu acho que António Costa terá fortes aliados, como o Partido Trabalhista britânico.
Vê-se a disputar a liderança do PS, quando estiver mesmo em causa a liderança do PS?
Estou nisto por um imperativo de cidadania. Acho que é fundamental haver possibilidade de fazer escolhas livres. E sobretudo, haver um debate forte e vivo, com propostas e ideias alternativas.
O PS devia voltar à fórmula das primárias para eleger secretário-geral?
A escolha do secretário-geral devia ser com primárias abertas a simpatizantes. O anterior processo foi feito ad-hoc – sem que houvesse uma base de dados de simpatizantes do PS. A figura do simpatizante está prevista nos estatutos do PS, mas nunca foi devidamente regulamentada. É importante que haja um estatuto bem definido dos simpatizantes do PS.
Que nome daria a esta direita, em contraponto com a ‘geringonça’?
A direita é uma espécie de máquina trituradora. Porque o que a direita fez a este País nos últimos anos vai demorar décadas a recuperar.