Manuel Alegre já fez saber: não aparecerá, na manhã de 25 de abril, na Assembleia da República para a sessão evocativa da revolução dos cravos. O 25 de Abril dele “é outro” e sente-se triste com a evolução da democracia nos últimos anos. Mário Soares ainda ponderava, no início da semana, se haveria de ir. Mas tendo em conta os últimos anos, o mais provável é também ficar ausente.
Ambos os históricos socialistas não comparecem desde 2012, ano a partir do qual também a Associação 25 de Abril (A25A) não tem picado o ponto das comemorações oficiais. Este ano, a organização presidida pelo coronel Vasco Lourenço voltou a declinar o convite. As razões de anos anteriores acentuaram-se, argumenta. “Vivemos numa situação em que o próprio Presidente da República não cumpre, em nosso entender, a sua função constitucional de garante do regular funcionamento das instituições”, justificou a associação num comunicado bastante crítico em relação à condução política do País.
Recorde-se que, há um ano, a A25A convocou, para a mesma hora da cerimónia oficial, uma concentração no Largo do Carmo, em Lisboa, seguida de um desfile que, entre outras, percorreu a Rua António Maria Cardoso, onde se erguia a sede da PIDE/DGS, e para onde, até 1965, eram levados para interrogatório os presos políticos encarcerados na Cadeia do Aljube – espaço no qual passará a funcionar, a partir deste sábado, 25, o Museu do Aljube Resistência e Liberdade.
Ora, este ano, nem na inauguração desse museu municipal dedicado à memória dos resistentes antifascistas deixa de se sentir alguma crispação, com os dirigentes do movimento cívico Não Apaguem a Memória! (NAM) a assumirem algum aborrecimento. Não o suficiente para os afastar da inauguração. É um amargo de boca que se instalou no NAM há já dois anos, quando o movimento se viu excluído da comissão instaladora do novo museu, nomeada pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), que o relegou para uma representação no conselho consultivo.
“Inexplicavelmente, fomos marginalizados na implementação do novo museu, sem que nos tivessem dado uma explicação”, admite à VISÃO o presidente do NAM, Raimundo Narciso.
Ora foi precisamente este grupo de cidadãos que, a partir de 2006, impulsionou a recuperação da antiga prisão como local de memória da resistência ao fascismo, promovendo uma série de iniciativas que culminaram na sua criação. Entre elas, a petição subscrita por seis mil pessoas, que resultou numa resolução da Assembleia da República, recomendando a criação de um “museu da liberdade e da resistência” na antiga cadeia. Segundo os seus dirigentes foi também o NAM quem sensibilizou o então ministro da Justiça Alberto Costa (antigo preso político no Aljube), a transferir o edifício, sob a sua tutela, para a Câmara de Lisboa.
Revolução é festa
Abril comemora-se essencialmente nas ruas e com música, teatro, cinema e exposições, além das cerimónias oficiais em praticamente todos os municípios e manifestações populares durante a tarde de dia 25 nas principais cidades. Eis uma (muito) pequena amostra do que vai ser a animação na véspera. Programas de festa marcados para 24 de abril de 2015
- Lisboa A partir das 21h, concerto da lusofonia nas escadarias da Assembleia da República.
- Porto A Liberdade do Som, no âmbito do Foco Rock, que exibe documentários de bandas estrangeiras com concertos de portuguesas. Às 21h no Rivoli.
- Coimbra Concertos, teatro e recital, a partir das 22h na sede do Ateneu.
- Setúbal Farra pela noite dentro com música no centro da cidade. Destaque para a Brigada Victor Jara, a partir das 22h, na Praça de Bocage.