1. Se tomar posse como presidente da Câmara, qual será o problema da cidade a que dará prioridade?
ANTÓNIO COSTA – Garantir as condições para que, no início do próximo ano, as juntas de freguesia disponham dos novos meios e competências, no âmbito da reforma administrativa efetuada na cidade, que permitirá uma ação muito mais eficaz em matérias como limpeza e varredura, pequenas reparações nas ruas e pavimentos ou ordenação do trânsito, entre muitos outros. Trata-se de uma grande reforma da cidade, realizada no anterior mandato, que importa agora implantar e cujos efeitos se farão sentir positivamente em muitos aspetos da vida das pessoas.
FERNANDO SEARA – A minha prioridade será a constituição de brigadas permanentes de limpeza que deverão funcionar todos os dias do ano e garantir à cidade de Lisboa um sistema de higiene urbano condigno.
É lamentável o estado a que chegou a falta de higiene nas ruas e jardins, com o acumular de lixo e detritos e sujidade nos passeios, muitos deles peganhentos e cinzentos por falta de limpeza. Considero este problema da falta de higiene o mais importante a resolver a curto prazo. Por ser prejudicial para a imagem de Lisboa mas, acima de tudo, pelo atentado quotidiano à qualidade de vida dos lisboetas.
2. A câmara municipal devia ter responsabilidades na gestão dos transportes públicos? Se sim, como entende essa participação?
AC – Obviamente que a gestão dos transportes públicos devia passar a ser da responsabilidade dos municípios, que são os principais interessados no assunto. Numa altura como esta, em que a todas as razões de outra ordem acresce uma crise que afeta todas as famílias portuguesas, seria uma grande oportunidade para apostar na promoção do transporte público. E o que temos visto é apenas uma linha de atuação que visa eliminar carreiras e diminuir horários, o que tem levado à perda de milhares dos habituais utilizadores. É uma situação escandalosa. Entram em Lisboa, todos os dias, mais de 350 mil carros dos concelhos limítrofes (que não pagam impostos na cidade…). Este é um problema que exige uma lógica metropolitana de ação. É um dos combates que nos propomos travar no próximo mandato: lutar para que a gestão dos transportes públicos passe das mãos do Governo para as das autarquias. É uma necessidade imperiosa.
FS – O modelo de gestão dos transportes públicos urbanos na Grande Lisboa deve ser aplicado ao nível da sua área metropolitana. Entendo que deve resultar de um acordo integrador entre as diferentes autarquias e os diferentes operadores. Infelizmente, a divergência de interesses entre as partes tem inviabilizado esse acordo e esse modelo, com reflexos negativos na vida dos cidadãos. Tudo farei para que a CML seja o motor de um diálogo definitivo e orientado para resultados concretos que ajudem os lisboetas na sua mobilidade e na sua vida, entre a casa e o trabalho.
3. Qual é a melhor parte da cidade para…
… morar?
AC – Muitas.
FS – Recentemente, a revista Time Out fez um inquérito aos leitores e estes elegeram Campo de Ourique. Penso que muitos desses votos resultam da existência de uma grande variedade de comércio de proximidade. Mais uma prova de que o nosso programa vai ao encontro dos lisboetas.
… namorar?
AC – Os novos jardins e esplanadas espalhados pela cidade, os miradouros renovados, não faltam sítios para namorar… Se enumerasse o rol, a VISÃO teria de fazer um número extra!
FS – Isso é com cada qual, mas Lisboa tem inúmeros cenários, junto do rio, passeando nos parques e jardins, conversando em esplanadas, nos miradouros das colinas. Lisboa tem múltiplos cenários para romantismos.
… passear?
AC – A Avenida da Liberdade, a Baixa (incluindo uma subida ao Arco da Rua Augusta), o Chiado, São Pedro de Alcântara e o Príncipe Real, o Terreiro do Paço, a Ribeira das Naus, o Castelo, Alfama, Mouraria, o Parque das Nações, os jardins e a zona monumental de Belém, a Duque d’Ávila, a Tapada das Necessidades, todo o corredor verde de Monsanto. Chega ou querem mais?
FS – É saudável evitar as zonas – e são muitas – com trânsito caótico. Pessoalmente, gosto de passear entre o Chiado e a Baixa. Em Belém, claro, visitando monumentos e aprendendo sempre algo novo com a sua história. Ou em Carnide, ali ao Largo da Luz, pelas minhas memórias de juventude. Cada um tem as suas memórias e as memórias são também geografia.
… trabalhar?
AC – Um local bem servido por transportes públicos.
FS – Conto vir a gostar muito de trabalhar na Praça do Município. Parece-me um excelente lugar e não tenciono trocá-lo por qualquer outro.
… diversão?
AC – A Bica, o Cais do Sodré, o Bairro Alto, as esplanadas espalhadas pela cidade. Respeitando o direito dos outros ao descanso.
FS – Divirto-me em livrarias, descobrindo novos títulos e autores, filmes e peças de teatro ou num dos muitos espetáculos musicais que Lisboa oferece. Quanto à noite, tenho pouco tempo para diversão. Mas quando surge uma ocasião, gosto de visitar o Xafarix, lugar de reencontros, bem como da música ao vivo do Templários.
4. Se um amigo seu estrangeiro quisesse visitar Lisboa, que lugares lhe sugeria?
AC – Que se perdesse na cidade, durante uns dias, e a aproveitasse o melhor possível, que apreciasse a luz que muitos dizem única desta cidade do Tejo, que soubesse usufruir desta cidade vibrante e cosmopolita, uma cidade do interculturalismo e da tolerância. A cidade dos bairros populares (Alfama, Mouraria, Castelo), mas também a cidade moderna. E que voltasse depressa, pois Lisboa apaixona.
FS– Qualquer um dos atrás mencionados. E também Mouraria e Alfama!
5. Lisboa precisa de uma nova travessia do Tejo?
AC – Não é questão que se coloque, nos próximos anos. O atual PDM, por uma questão de prudência, tal como o PDM de 1994, deixou um corredor de reserva para o caso de, no futuro, a ponte vir a ser necessária.
FS – Não.
6. O País precisa de um novo aeroporto?
AC – O aeroporto está a ser objeto de transformações profundas que aumentaram significativamente a sua eficiência e capacidade. Para já, o problema não se coloca.
FS – Não. Falo por Lisboa, não pelo País. E Lisboa precisa do aeroporto na Portela. É isso que defendemos, no nosso programa, e que continuaremos a defender, após as eleições, de forma intransigente.
7. Quais são as suas soluções para o problema da reabilitação urbana da cidade?
AC – A reabilitação urbana é a primeira prioridade da política urbanística do município e, por isso, o plano diretor adota três palavras-chave:
Reutilizar – dar novos usos a edifícios abandonados, como se fez, por exemplo, no MUDE e na LX Factory e se está a fazer no Hospital do Desterro;
Reabilitar – em parceria com os proprietários, os prédios devolutos ou em ruínas;
Regenerar – as áreas prioritárias BIP-ZIP, bairros e zonas espalhadas pela cidade, onde habitam milhares de famílias.
No mandato que agora termina, formulámos os programas que nos propomos desenvolver no próximo mandato:
– Um grande programa, que designamos por RER, de reabilitação de edifícios com o objetivo de aumentar a resistência aos sismos e a eficiência energética, e que será candidatado ao quadro comunitário 2014/2020.
– O programa R9, destinado às pequenas obras de reabilitação/ conservação de edifícios e frações.
– O programa REABITAR dirigido aos prédios devolutos da cidade.
FS – Propomos várias medidas, no programa da coligação, para resolver o problema da reabilitação urbana. Entre elas, desenvolver contratos de Revitalização Urbana, com entidades locais (IPSS, associações de moradores) para gestão dos bairros ou criação de estímulos à reabilitação urbana, através de medidas fiscais que favoreçam a intervenção no edificado, majorando as deduções em sede de impostos.
8. Quais seriam os seus três desejos para Lisboa, se lhe aparecesse o génio da lâmpada?
AC – As cidades não se gerem por artes mágicas, mas com visão estratégica, planeamento, participação, parceria e muita persistência.
FS – Não acredito em génios da lâmpada. Ou em soluções facilitistas que, aliás, as Mil e Uma Noites como outras histórias antigas nos ensinam a evitar. Mas posso partilhar três desejos, simples apenas na forma, extremamente complexos na realidade: minorar a fome, a pobreza e a solidão de quem mais sofre, seja por causa da idade seja por doença ou exclusão social.
9. A mudança de circulação do trânsito na rotunda do Marquês de Pombal foi uma boa medida? Porquê?
AC – Foi. Porque, depois de um período de adaptação, a fluidez do trânsito não ficou prejudicada, antes pelo contrário. E também, não menos importante, porque os níveis de poluição, na Avenida da Liberdade – que ultrapassavam todos os limites impostos pela União Europeia, pondo em causa a saúde das pessoas, e sujeitando o País a coimas diárias impostas pelas autoridades europeias – desceram substancialmente. Enquanto eu for presidente de Câmara, as pessoas serão mais importantes que os automóveis e o paradigma da mobilidade, em Lisboa, priorizará sempre as pessoas e a sua qualidade de vida, não os automóveis.
FS – Não penso que tenha sido. Nem eu nem muita gente que tenho ouvido sobre o assunto. Foi mais uma medida, entre muitas, de combate aos automobilistas por esta gestão socialista. O resultado foi a saída do vereador com o pelouro do Trânsito, a confusão nas laterais da Avenida da Liberdade e um engarrafamento constante no Marquês nas horas de ponta.