Uma vigília não é a mesma coisa que uma manifestação. Não se caminha para lado nenhum, não existe o objetivo de chegar a determinado lugar. Por isso uma vigília é mais uma festa e, no caso da que, nesta sexta-feira, 21, aconteceu nos jardins defronte do Palácio de Belém, enquanto decorria a reunião do Conselho de Estado, foi mesmo uma festa de final de tarde.
A PSP confirmou a detenção de cinco pessoas, mas a festa foi bastante pacífica: encontros de fim de tarde, dois dedos de conversa, canções, algumas cervejas, muitas palavras de ordem. Umas mais abrileiras: “O povo unido jamais será vencido”, “Cavaco, escuta: o povo está em luta”, “Aqui Portugal, ali capital”. Outras mais atuais: “Offshores PPP’s, e eu sem nada ao fim do mês”, “Fora, fora, fora daqui, a fome, a miséria e o FMI”. A intenção era “acordar” Cavaco Silva e os seus conselheiros: “Acordai acordai homens que dormis/a embalar a dor dos silêncios vis” (música de Fernando Lopes Graça, letra de José Gomes Ferreira, ouvia-se em gravação prévia e entoava-se de papel na mão).
Nesta vigília que entrou depois pela noite dentro, havia uma média de idades mais baixa do que a da manifestação de sábado passado. Bebés de colo e crianças pequenas também. Tarefa jornalística muito ingrata, a de quantificar os protestos. A organização fala em milhares, avançou o número de 15 mil. Às seis e meia (a vigília estava convocada para as seis da tarde), andava-se à-vontade, hora e meia depois, a multidão adensou-se. Nunca chegou, porém, a encher a praça, nas laterais sempre se circulou à-vontade. No meio dos indignados, alguns grupos de protesto mais orgânicos: cartazes do Bloco de Esquerda, do movimento Precários Inflexíveis, fuzileiros na reserva, manifestantes anti-touradas, funcionários da RTP e trabalhadores portuários. Entre os dizeres (nada de grandes laivos criativos), muitos contra a Troika e o FMI, muito poucos anti-TSU. E assim porventura se confirma que a medida anunciada há duas semanas pelo primeiro-ministro terá sido apenas a gota de água. De um descontentamento cada vez menos adormecido.