Quando chega a campanha eleitoral, os portugueses dividem-se entre portugueses e portugueses. Os portugueses dizem que os portugueses não fazem nenhum, que querem é vadiar ou ir para o poleiro. Os portugueses respondem que os portugueses querem o poleiro ou andar a vadiar e que não fazem nenhum.
Nas campanhas eleitorais – e fora delas, já agora – os portugueses olham para os portugueses com desdém. O português está sempre disposto a apontar o português aldrabão, irresponsável e malandro enquanto o português olha desconfiado do outro lado do balcão e aponta para o português malandro, irresponsável e aldrabão.
Os portugueses acusam normalmente os portugueses de serem preguiçosos, pouco produtivos e incapazes de pensar no futuro do País. Indignados, os portugueses respondem que o futuro do País não se constrói com portugueses pouco produtivos e preguiçosos.
A poucos dias das eleições, os portugueses acusam os portugueses de não apresentarem ideias, de não debater as grandes questões que interessam ao País e de só estarem preocupados com o tacho. Prova de que o confronto de posições e programas, afinal, até existe, é o facto de os portugueses logo responderem que os portugueses são estão preocupados com o tacho e não querem debater as grandes questões do País e apresentar ideias.
Que isto está mal, qualquer português sabe. É por isso que qualquer português que se preze só pode indignar-se ao ver e ouvir os portugueses dizerem mal de tudo e todos. Quem o faz só pode mesmo ser português.