Os conselhos dos senadores
Ainda bem que há vozes a colocarem as coisas nos seus devidos lugares. Desta vez foi o Presidente da República, que saiu a terreiro a lançar alertas sobre a “gravidade da situação do País” pedindo aos partidos que sejam esclarecedores e aos cidadãos que exijam explicações sobre as suas propostas concretas. Uma intervenção oportuna perante a cacofonia da campanha. Também Mário Soares, do alto da sua experiência política, aconselhou o PS a moderar os ataques ao PSD, em nome de uma aliança “para haver um Governo consistente e capaz de honrar os compromissos”. Haverá outra saída?
Passos com todos
Há longos anos que o PSD vive em guerra permanente. A sucessão de líderes ilustra-o e as facadas nas costas dadas por uns nos outros em momentos cruciais serve não só para acicatar os ódios internos, como oferece pretextos aos opositores para fragilizarem mais as lideranças. Passos Coelho conseguiu o que parecia impossível: ter ao seu lado toda a gente. De figuras emblemáticas do partido, como ainda ontem António Capucho, até à presença contínua de ex-líderes, desta vez todos querem dar o seu contributo para a tão almejada vitória. Pela campanha já passaram Santana, Menezes e Marques Mendes. Nos próximos dias será a vez de Balsemão, Marcelo e Ferreira Leite. Bom sinal para Passos Coelho.
Assumir riscos
Poder-se-ia pensar que, depois da péssima prestação deste Governo PS, a esquerda iria penalizar os socialistas, engordando as percentagens do PCP e do Bloco de Esquerda. Não é isso que se verifica. O fenómeno tem a ver com a campanha de medo levada a cabo por Sócrates, que faz com que muita gente pense que mais vale concentrar os votos, apostando no mal menor contra a direita. Mas tem sobretudo a ver com a atitude destes dois partidos, que surgem ao eleitorado mais como vozes de protesto do que como potenciais parceiros do Governo. A recusa de PC e BE de se encontrarem com a troika, não para negociar, mas como porta-vozes dos interesses das centenas de milhares de cidadãos que neles votaram, deve ter sido a gota de água para muita gente. Não basta ser simpático como Jerónimo ou elogiado economista como Louçã. É preciso assumir riscos.
Tiros de pólvora seca
A Grécia está a arder com o fantasma do incumprimento e o Governo acena com mais austeridade e um pacote brutal de privatizações. Na Europa, já se utilizam eufemismos para não soletrar a palavra reestruturação da dívida helénica, um péssimo cartão de visita para a moeda única e para a recuperação da economia da União. Toda a gente sabe que o que acontecer na Grécia pode ter implicações trágicas em Portugal, mas, por cá, a campanha alegre que vivemos passa ao lado de tudo isto. Era bom que se começasse a preparar os portugueses para o dia a seguir às eleições, em vez de se desperdiçar tiros de pólvora seca que se esgotam na espuma dos dias.