A História parece repetir-se. Tal como os nazis haviam feito nos anos 30 e depois nos territórios ocupados durante a II Guerra Mundial, também os russos estarão a destruir livros considerados subversivos, em território ucraniano ocupado, nomeadamente na cidade de Melitopol (sul da Ucrânia, entre a Crimeia e Mariupol).
De acordo com uma declaração do porta-voz das Forças de Defesa da oblast de Zaporijia, o exército inimigo está não só a destruir livros como planeia substituí-los por propaganda russa. “Em Melitopol, os ocupantes, juntamente com colaboradores, estão a pôr em prática atividades idênticas às do exército de Hitler, que destruiu livros e, com eles, a História e a Cultura das nações que consideravam ‘erradas’. Os racistas estão a remover livros ucranianos das bibliotecas. Em particular, livros didáticos sobre a História da Ucrânia foram declarados literatura proibida, o que, na opinião deles, promove as ideias do nacionalismo”, diz o coronel Ruslan Tkachuk, num vídeo divulgado esta semana pela página oficial das Forças de Defesa de Zaporijia.
“Os soldados russos planeiam lançar livros didáticos de pseudo-historiadores e propagandistas do Kremlin”, acrescenta o militar.
O paralelismo que o coronel Tkachuk faz com os nazis não deixa de ser irónico, tendo em conta que a desnazificação da Ucrânia foi precisamente uma das principais justificações que Vladimir Putin deu para a invasão. A onda de destruição de livros mais conhecida da Alemanha Nazi é a que começou no dia 10 de maio de 1933, quando associações de estudantes universitários queimaram, em 34 cidades mais de 25 mil obras consideradas pouco alemãs, de autores judeus, esquerdistas ou que de alguma forma punham em causa os princípios do nazismo. Em Berlim, a destruição foi supervisionada por Joseph Goebells, o ministro da Propaganda nazi, que fez um discurso para uma audiência de 40 mil pessoas, contra a “decadência e corrupção moral” e a favor da “decência e moralidade na família e no Estado”. Entre os livros queimados encontravam-se obras de autores tão diferentes como Marx, Freud, Hemingway, Kafka e H. G. Wells.
Já na Segunda Guerra Mundial, a queima de livros fez parte da política de genocídio cultural que os nazis tentaram levar a cabo, nos territórios ocupados.
Em 2010, já tinha havido uma destruição de livros em território ucraniano, por pró-russos, em Simferopol, na Crimeia. A 14 de março desse ano, o grupo Proryv e o Bloco Natalia Vitrenko juntaram-se para queimar, numa praça da cidade, dezenas de livros didáticos sobre a História da Ucrânia. Na altura, o ato foi condenado pelo próprio gabinete do Presidente da República, que era então o pró-russo Viktor Yanukovych.
Natalia Vitrenko, a líder da aliança política com o seu nome, foi também líder e candidata presidencial do Partido Socialista Progressivo da Ucrânia, um dos 11 partidos suspensos em março e banidos já este mês pelo parlamento ucraniano, por serem considerados colaboracionistas com o regime do Kremlin.