Na passada segunda-feira, dia 25, Vladimir Putin, Presidente da Rússia, anunciou a captura de um grupo de “terroristas” neonazis enviados por Kiev e acusou-os de planear o assassinato de Vladimir Solovyov, jornalista televisivo russo e um dos principais difusores da narrativa oficial do Kremlin.
Na sua declaração, proferida durante uma reunião na sede da Procuradoria-Geral de Moscovo, Putin garantiu que o golpe terrorista foi orquestrado por “altos representantes diplomáticos da Europa e dos Estados Unidos”, que, havendo perdido a guerra da informação, terão “recorrido ao terror e ao assassínio dos nossos jornalistas”. O presidente russo acrescentou ainda que a operação visava “dividir a sociedade” e “destruir o país por dentro”, mas que, devido à “maturidade e unidade” do povo russo, esse objetivo não terá sido alcançado.
Contudo, muitos indícios apontam para que esta detenção, que foi acompanhada por imagens lançadas posteriormente nos media russos, não passe de uma manobra de propaganda encenada pelos agentes do FSB, sigla dada aos serviços de informações da Rússia, com o objetivo de justificar o prosseguimento da invasão perpetrada pelo Kremlin. A primeira pista chegou através de um vídeo publicado pela agência de notícias estatal russa RIA Novosti na rede social Telegram, que exibia os agentes do FSB a revistar um apartamento que pertenceria aos assassinos. Nesse apartamento, o FSB encontrou várias armas de fogo, um dispositivo explosivo improvisado, oito “cocktails molotov”, seis passaportes ucranianos e alguns objetos com conotação nazi, como uma fotografia de Adolf Hitler, peças de roupa ornamentadas com suásticas ou literatura nacionalista. Para além de tudo isto, também se podem avistar no vídeo três cópias do jogo de computador “The Sims” – e é sobre estes objetos que recaem principalmente as suspeitas.
Eliot Higgins, fundador do site de jornalismo de investigação Bellingcat, sugere que esta descoberta só pode ter uma explicação: os agentes do FSB foram instruídos a colocar à vista das câmaras três cartões SIM para telemóvel, mas terão percebido mal as instruções e optado por dispor as três cópias dos “The Sims”. Higgins ironiza o sucedido na sua conta de Twitter, listando o que, na visão de Moscovo, serão todos os materiais essenciais para um “clássico sabotador”: explosivos, armas, o livro “Mein Kampf”, uma bandeira nazi e, claro, três jogos do “The Sims”. O jornalista da Bellingcat acrescenta ainda que acredita “genuinamente” que o lapso se deveu a “um agente idiota do FSB perceber mal quando lhe pediram para arranjar 3 cartões SIM”.
No mesmo vídeo pode ver-se também um livro com uma mensagem escrita a caneta, onde se pode ler, a dada altura, “matar para viver e viver para matar”. Em teoria, a epígrafe teria sido escrita por um dos membros do “grupo terrorista” neonazi, mas – e este terá sido o segundo erro dos agentes do FSB – no lugar da assinatura podem-se ler apenas as palavras “assinatura ilegível”. Na rede social Twitter, Sergej Sumlemny, especialista em questões relacionadas com a Europa de Leste e antigo diretor da organização política ecologista Heinrich-Böll-Stiftung, em Berlim, prontamente acusou os serviços de inteligência russos de “fabricar” a tentativa de assassinato e sugeriu que o “FSB recebeu uma ordem para assinar o livro com uma ‘assinatura ilegível’ – e fez exatamente isso”.
Entretanto, os russos insistem que a tentativa de assassinato é real. No site de notícias Rossiya-1, foi publicado um artigo onde se reporta que o “grupo terrorista” teria também recebido ordens dos serviços secretos ucranianos para matar várias outras personalidades dos media da Rússia, entre elas o apresentador Dmitry Kiselyov e a editora principal do canal televisivo RT, Margarita Simonyan.