É na Marina di Carrara, uma pequena cidade na costa da Toscana, em Itália, que está um dos maiores e mais caros super-iates do mundo. Apesar de o Scheherazade não ser discreto, aparentemente o seu dono é, não se sabendo a quem pertence o barco. Este secretismo está a gerar especulações de que o dono possa ser um milionário do Médio Oriente, um oligarca russo ou até mesmo Putin.
O capitão do navio, Guy Bennett-Pearce, negou que o Presidente russo seja o proprietário ou que tenha estado sequer no iate. “Eu nunca o vi. Nunca o conheci”, disse em entrevista ao New York Times. Apesar de não descartar a hipótese de o dono ser russa, recusou-se a dizer mais sobre a identidade do proprietário, citando um “acordo de confidencialidade”.
Na semana passada, o Governo italiano bloqueou 140 milhões de euros em ativos ao abrigo das sanções internacionais impostas aos oligarcas russos, incluindo a apreensão de dois iates a empresários próximos de Vladimir Putin. As autoridades italianas já estiveram no barco, na sexta-feira passada, para investigarem os documentos e certificação do iate.
Dada a investigação que está a decorrer, o capitão disse que “não tinha escolha” a não ser entregar os documentos revelando a identidade do proprietário às autoridades italianas: “Não tenho dúvidas de que isto vai inibir o navio de todos os rumores e especulações”, disse ao jornal.
A especulação sobre este barco, que está atracado desde setembro do ano passado em Itália, começou porque existe um grau incomum de sigilo: todos os empregados assinaram um acordo de confidencialidade, o navio tem escondida a placa de identificação e, no porto, ergueram uma barreira metálica para esconder parcialmente o iate.
Os moradores afirmam que ouviram pessoas a bordo a falar russo. “Toda a gente o chama de iate de Putin, mas ninguém sabe de quem é”, disse Ernesto Rossi, um funcionário reformado ao New York Times. “É um boato que está a circular há meses.” Na Itália, a frase “o iate de Putin” tornou-se uma abreviação para um navio misterioso e ultraluxuoso.
Scheherazade é também o título de uma obra sinfónica do compositor russo Nikolai Rimsky-Korsakov.
Determinar a propriedade de certos bens dos mais ricos é difícil porque muitas vezes estes estão guardados por entidades privadas ou advogados e escondidos em empresas sob sigilo de offshore.
O proprietário de Scheherazade, Bielor Assets Ltd., está registado nas Ilhas Marshall. Um site que se autodenomina “a autoridade global em super-iates”, afirma que o proprietário da embarcação é “conhecido por ser um bilionário do Oriente Médio”. O construtor do iate, Lurssen Group, cujo site promete aos clientes “total confidencialidade”, não quis comentar sobre sua propriedade.
Cerca de 70% da tripulação do Scheherazade é russa, confessa o capitão Bennett-Pearce. Um ex-membro da tripulação, que falou sob condição de anonimato ao jornal, disse que o navio era comandado por uma equipa internacional quando o “chefe não estava” e quando este estava presente esta era substituída por uma totalmente russa. Em 2020, a tripulação estrangeira foi demitida, garantiu. O capitão do barco acrescentou que estes foram substituídos por russos que não exigiam altos salários e benefícios: “Tudo se resume à economia”.
Avaliado em cerca de 700 milhões de dólares (quase 650 milhões de euros), o iate tem dois espaços para os helicópteros pousarem e no interior há uma piscina com cobertura que se converte numa pista de dança. Existe ainda um ginásio totalmente equipado e, nas casas de banho, os acessórios são banhados a ouro.