Numa conferência de imprensa em que surgiu rodeado por alegados observadores republicanos que teriam sido impedidos de inspecionar boletins de voto enviados por correio, Rudy Giuliani, advogado de Donald Trump, insistiu que “os votos por correio são mais suscetíveis a fraude”, referindo ainda que Filadélfia, cidade tradicionalmente democrata, tem “um histórico muito grande de fraude eleitoral”.
Segundo Rudy Giuliani, “não houve inspeção de um único boletim enviado por correio”, acrescentando que a vantagem de cerca de 700 mil votos que Donald Trump tinha no estado da Pensilvânia “desapareceu”, o que é “matematicamente impossível”.
A campanha de Trump suspeita de 600 mil boletins em Filadélfia e 300 mil em Pittsburgh, também na Pensilvânia, estado cujos 20 votos do colégio eleitoral permitiram a Joe Biden ser anunciado Presidente no sábado. As alegadas “irregularidades” dizem, no entanto, respeito a mais 10 estados, pelo que os processos, anunciou Giuliani, serão a nível nacional.
Uma responsável da Comissão Federal de Eleições, uma agência federal independente encarregue de zelar pelo cumprimento das leis de financiamento de campanhas nos comícios nos Estados Unidos, apressou-se a assegurar que “não há evidência de fraude” no escrutínio de dia 3.
“Tem havido muito poucas queixas sobre a forma como se desenrolaram estas eleições”, afirmou Ellen Weintraub, comissária da FEC. “Muito poucas queixas fundamentadas, deixem-me antes dizê-lo assim”, precisou a responsável em declarações à CNN, insistindo que “não há evidência de nenhum tipo de fraude eleitoral”, nem de que “tenham sido emitidos votos ilegais”.
No mesmo sentido apontam vários estudos realizados ao longo dos anos que mostram que, apesar da existência comprovada de casos isolados, a fraude eleitoral é muito rara. Tão rara que uma análise de 2017 do Brennan Center for Justice a coloca entre os 0.00004% a 0.00009% de possibilidades de acontecer.
Uma análise da Heritage Foundation, um think tank conservador americano, descobriu 143 casos de condenação criminal por fraude respeitante a votos por correio nos últimos 20 anos. Feitas as contas, os casos de fraude dados como provados representam 0.00006% do total de votos.
Também um estudo de uma professora de ciência política da Universidade de Columbia, Lorraine C. Minnite, analisou a incidência de fraude eleitoral ao longo de dois anos e percebeu que os casos reportados se traduziam, na maioria das vezes, em “falsas alegações do perdedor de uma eleição renhida, ou erro do eleitor ou administrativo”.