Os EUA estão a viver um ano eleitoral atípico. Devido à pandemia de Covid-19, os votos por correio e votos antecipados estão a atingir números históricos. Apesar das eleições serem no dia 3 de novembro, 80 milhões de americanos já votaram até ao momento (incluindo Joe Biden) – o equivalente a mais de um terço de todos os eleitores do país.
Esta grande afluência às urnas (ou aos correios) levanta problemas na contagem dos votos. Cada voto por correio tem de ser verificado individualmente. Por essa razão, os resultados eleitorais finais dificilmente serão divulgados na noite da eleição – mas há certas combinações de vitórias em Estados que podem tornar possível cantar vitória antecipadamente.
Há seis Estados que, de acordo com as sondagens, vão decidir as eleições. São os chamados swing states: a Florida, a Carolina do Norte, o Arizona, a Pensilvânia, o Wisconsin e o Michigan. Enquanto que três destes Estados tomaram medidas para tornar o processo de contagem de votos rápido e eficaz, os outros três prometem contagens de votos demoradas – o que influencia os dois candidatos de forma diferente.
A demora na contagem dos votos por correios
A contagem dos votos nos EUA costuma prolongar-se pelas mais diversas razões: desde longas filas para votar que levam ao fecho tardio das urnas, dificuldades técnicas ou falta de funcionários. Mesmo se tudo estiver a correr bem, uma corrida muito renhida pode levar a uma grande demora para anunciar o vencedor, como aconteceu em 2000, nas eleições disputadas entre Al Gore e George W. Bush.
Este ano, acresce-se mais um entrave – uma pandemia, cujas restrições estão a levar a um número recorde de votos por correio. A verificação destes votos não é um processo fácil: cada um dos cinquenta Estados tem as suas próprias regras e vão desde a confirmação da assinatura do eleitor, à exigência de colocar o voto num “envelope de sigilo”.
Por essa razão, os funcionários dos centros de eleições têm de verificar cada um destes votos por correio, um a um – o que pode levar muito tempo. De forma a acelerar o processo, alguns Estados tomaram medidas para começar a verificação e contagem dos votos à distância mais cedo. No entanto, outros Estados optaram por fazer todo este processo na própria noite eleitoral.
Os Estados “rápidos e lentos”
A Florida, a Carolina da Norte e o Arizona apresentam-se como três dos Estados decisivos para a eleição do Presidente americano. Os três estão prontos para fazer uma contagem rápida – são os “Estados rápidos”. Enquanto que a Florida começou a verificar e a contar os votos por correio há várias semanas, o Arizona começou este processo no dia 20 de outubro. Por sua vez, o Arizona só vai contar os votos no dia das eleições, mas está a verificar todos os votos por correio antes da data, para facilitar a contagem.
Apesar de toda esta preparação, isso não significa que os Estados vão garantidamente dar uma resposta completa no dia 3 de novembro– pode haver imprevistos, ou uma eleição tão renhida que torne necessário contar os boletins até ao último voto para saber quem ganhou.
Os outros três Estados decisivos – a Pensilvânia, o Wisconsin e o Michigan – são os “Estados lentos”. Nenhum destes criou mecanismos para verificar e contar os votos por correio de forma antecipada. Assim, todo este processo será levado a cabo na própria noite eleitoral – o que se pode traduzir em vários dias de contagens de votos e num impasse para saber quem é o próximo presidente dos EUA.
Alguém vai cantar vitória no próprio dia?
De acordo com as sondagens e as contas do Colégio Eleitoral, Trump terá necessariamente de ganhar um dos “Estados lentos” para se tornar Presidente dos EUA. Isso significa que dificilmente poderá festejar a sua possível reeleição no dia 3 de novembro.
Por outro lado, caso Biden consiga segurar Estados como a Florida ou a Carolina do Norte, que Trump está “obrigado” a ganhar, as contas das sondagens indicam que a sua vitória se torna quase certa e poderá cantar vitória ainda na noite do dia das eleições. No entanto, nada é assim tão simples: caso Trump consiga segurar um destes “Estados rápidos”, as contas voltam a complicar-se e será necessário aguardar pelo resultado dos “Estados lentos” para saber o vencedor.
Todas estas contas são feitas no pressuposto de que cada um dos candidatos consegue segurar os Estados que tipicamente não mudam o sentido de voto – como o Estado de Nova Iorque e de Washington para o Partido Democrata, ou o Alabama e o Texas para o Partido Republicano. Se um dos candidatos “roubar” um destes Estados ao outro, as eleições podem dar uma volta de 180 graus. Por exemplo, caso Biden ganhe o Texas, a sua vitória torna-se quase certa.
No meio de todos estes impasses, acresce o facto de alguns Estados ainda aceitarem receber votos por correio alguns dias depois do dia das eleições – como é o caso da Carolina do Norte, que aceita boletins de voto que cheguem nove dias depois de 3 de novembro. Em conclusão, as probabilidades indicam que os americanos (e o resto do mundo) podem ter de aguardar vários dias após as eleições para saber quem vai ser o futuro Presidente dos Estados Unidos da América.