Há gente com uma pontaria danada. A 6 de novembro, os três principais governantes da Alemanha passaram cerca de 12 horas em reunião e não foi para assistirem à contagem dos votos nos Estados Unidos da América. O objetivo era chegarem a acordo sobre o orçamento do Estado para 2025, acautelarem os interesses do país face a uma possível guerra comercial com o regresso de Donald Trump à Casa Branca e unirem esforços para a quadratura do círculo: relançar o crescimento e a competitividade da maior economia da Europa, garantir a transição energética, renovar as infraestruturas e os serviços públicos, e, entre outras prioridades, manter os compromissos sociais, sem comprometer o apoio à Ucrânia e o sacrossanto “travão da dívida”, consagrado constitucionalmente. Em vão.
Olaf Scholz, o chanceler social-democrata, Robert Habeck, o filósofo ambientalista e ministro dos Assuntos Económicos e da Ação Climática, e o liberal Christian Lindner, titular da pasta das Finanças, foram incapazes de se entender. Muito pior. Depois de meses de querelas, atritos e traições, a “coligação semáforo [devido às cores de cada um dos partidos] e do progresso” implodiu nessa mesma noite, com o chefe do Executivo a anunciar, em conferência de imprensa, a destituição de Christian Lindner, por ser “irresponsável”, “mesquinho” e “egoísta”. Um desfecho que, dadas as circunstâncias, a revista Focus considerou normal: “Desde dezembro de 2021 que a Alemanha é governada por pessoas que não estavam de acordo sobre nada, à exceção da despenalização da canábis e a possibilidade de se mudar de sexo todos os anos [uma referência à legislação aprovada, no início deste mês, para facilitar as alterações ao estado civil dos cidadãos transgénero].”