No ataque do Irão de terça-feira à noite contra Israel, o maior de sempre, foram lançados 200 mísseis. O Irão garante que cerca de 90% atingiram os seus alvos, mas Israel diz que as suas defesas anti-aéreas intercetaram a maioria.
Vários relatórios apontam que Teerão tem milhares de mísseis de cruzeiro e balísticos – capazes de ultrapassar os limites da atmosfera antes de a ogiva se separar e mergulhar de volta em direção ao seu alvo. Especialistas ouvidos pela CNN sobre o ataque de terça-feira acreditam que o Irão usou variações dos mísseis balísticos Shahab-3, com base nos vídeos que circularam nas redes sociais. Segundo o The Missile Threat Project, o Shahab-3, que começou a ser usado em 2003, transporta uma ogiva com 760 a 1200 quilos. Já o Iran Watch, que monitoriza o armamento iraniano, adianta que os modelos Ghadr e Emad, variações do Shahab-3, têm uma precisão de cerca de 300 metros em relação ao alvo.
Todas as atenções estão, no entanto, viradas para um novo míssil, que os meios de comunicação iranianos afirmam que foi usado no ataque de terça-feira: o Fattah-1, que Teerão descreve como um “míssil hipersónico”.
O míssil Fattah-1
Com 12 metros de comprimento e um peso entre os 3 500 aos 4 100 quilos, o Fattah-1 é capaz de acertar em alvos que se encontrem a 1 400 quilómetros de distância e de se deslocar a cinco vezes a velocidade do som – cerca de 6 100 quilómetros por hora. Característica que não impressionou os analistas ouvidos pela CNN, que apontam que a maioria dos mísseis balísticos chega a velocidades hipersónicas, sobretudo na parte do “mergulho” em direção aos alvos.
Designado “Fattah,” o nome do míssil faz referência ao líder da religião islâmica – Alá – descrito no Corão como o “Al-Fattah”, que significa “o vitorioso” e “o que traz a vitória”. O projétil, anunciado em 2023, integra a estratégia militar do Irão para melhorar as suas capacidades de guerra ao apostar num arsenal mais sofisticado. O desenvolvimento deste míssil coloca o Irão “entre as quatro nações globalmente capazes de produzir este tipo de armamento avançado”, destacou a agência de notícias iraniana.
Sendo um míssil balístico, esta arma faz parte da sua trajetória no espaço, ou seja, fora da atmosfera da terra. Desde modo, quando se dá a queda no alvo terrestre, e devido à força da gravidade, a velocidade do míssil aumenta exponencialmente, acabando por provocar mais danos na sua aterragem. Estes mísseis são ainda capazes de carregar explosivos e ogivas nucleares com um peso máximo de 500 quilos.
Segundo Fabian Hinz, investigador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, que escreveu sobre o tema no ano passado, para além da distância e rapidez o Fattah-1 parece ter ainda outra característica muito importante: a possibilidade de ajustar a sua trajetória quando já está a dirigir-se ao alvo para escapar às defesas antiaéreas. Tal deve-se ao facto de estarem equipados com sistemas de orientação avançados, que aumentam a sua precisão no ataque.
Particularidades que tornam estes projéteis alvos especialmente difíceis de intercetar pelos sistemas de defesa.
Mas os analistas da CNN mostraram-se céticos quanto à possibilidade de o Irão ter utilizado o novo míssil pela primeira vez na noite de terça-feira: “É um dos seus mais recentes mísseis balísticos e eles têm muito a perder com a sua utilização”, disse Trevor Ball, antigo técnico superior de engenhos explosivos do exército norte-americano. “Israel ficaria com uma ideia das suas capacidades só por ser utilizado. Há também a possibilidade de não funcionar, dando a Israel uma ideia ainda maior das suas capacidades. Ganham propaganda gratuita e não arriscam nada ao dizer que foi utilizada”, acrescentou.