A 26 de agosto de 2021, durante a caótica retirada das tropas dos EUA e da NATO, o Aeroporto internacional de Cabul, no Afeganistão, foi palco de um atentado suicida que provocou 183 mortos e outros tantos feridos ‒ maioritariamente afegãos, incluindo uma dúzia de talibãs, e ainda 13 soldados norte-americanos. Nesse mesmo dia, o Presidente dos EUA, Joe Biden, prometeu vingança contra os autores da carnificina: “Não vamos perdoar. Não vamos esquecer. Vamos perseguir-vos e fazer-vos pagar”. O principal destinatário desta mensagem era um jovem “leão urbano” ‒ entenda-se terrorista ‒, então com 26 anos, chamado Sanaullah Ghafari, mais conhecido pelo seu nome de guerra, Shahab al-Muhajir. A razão para ele ter ficado com a cabeça a prémio, e Washington oferecer 10 milhões de dólares a quem ajudasse a localizá-lo, era simples: Ghafari era já o wali (governador) e o comandante supremo da filial afegã do autoproclamado Estado Islâmico, o ISIS-K ou Daesh-K. O K significa Khorasan, “Terra do Sol” (em persa), região que se estende do Nordeste do Irão a toda a Ásia Central, onde o grupo pretende instaurar a sede de um califado global.
Como a Rússia e o resto do mundo perceberam no final da tarde da passada sexta-feira, 22 de março, o Daesh-K e o seu líder continuam de boa saúde e a criar medo e terror em demasiados lugares. Um grupo de milicianos fundamentalistas às ordens de Ghafari entrou de rompante no Crocus City Hall, uma sala de espetáculos em Krasnogorsk, na periferia da capital russa, e começou a disparar indiscriminadamente sobre os cerca de seis mil espectadores que se preparavam para assistir a um concerto rock. A banda Picnic, por motivos óbvios, não chegou a entrar em palco, nem a apresentar os novos temas lançados no início do mês. Além da inspiração ultranacionalista, uma das canções parecia profetizar o pior: “Não temas nada, nada temas ‒ nem o fogo, nem as sombras que ecoam. Já não és mais uma criança de faces rosadas. Banha-te com o teu próprio sangue ao amanhecer. E agita o dia que floresce.” Em pouco mais de 20 minutos, os atacantes massacraram centena e meia de pessoas, colocaram cargas explosivas no edifício e puseram-se em fuga, ainda antes da chegada das forças de segurança e com as chamas a consumirem, por completo, o enorme auditório.