Em vários vídeos publicados nas redes sociais, Bolsonaro apelou aos seus apoiantes que participassem numa “manifestação pacífica em defesa do Estado democrático de direito”. O apelo foi ouvido e milhares de apoiantes de Bolsonaro, que envergaram a camisola da seleção brasileira de futebol, concentraram-se este domingo em São Paulo para ouvir o discurso do ex-presidente.
As imagens do protesto provam a forte adesão desta manifestação, ainda que não exista consenso quanto ao número certo de manifestantes que estiveram presentes. O gabinete do governador da cidade publicou uma estimativa realizada pela Polícia Militar que fala em 600 mil pessoas na avenida, sendo que o número sobe para 750 mil se as ruas adjacentes forem também consideradas.
Contudo, os investigadores do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo, mencionaram que até às 15 horas compareceram na avenida 185 mil manifestantes, num cálculo feito com base do método Point to Point Network, um algoritmo que identifica indivíduos através de imagens captadas por drones.
Entre os manifestantes também era possível ver muitas bandeiras de Israel, Estado com o qual o atual Governo mantém uma relação conflituosa na sequência das recentes críticas do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, às operações militares israelitas na Faixa de Gaza.
Bolsonaro diz ser alvo de perseguição
“Levo pancada desde antes das eleições de 2018, passei quatro anos perseguido enquanto Presidente da República, essa perseguição aumentou a sua força quando deixei a Presidência”, afirmou.
Na mesma intervenção, o ex-governante brasileiro, que convocou os seus apoiantes para uma manifestação em protesto contra as investigações que o ligam a um plano para invalidar as eleições presidenciais de 2022, negou ter planeado um golpe de Estado. “Bolsonaro queria dar um golpe. Sempre ouvi isso desde que assumi. O que é golpe? É tanque na rua, é arma, é conspiração, é trazer classes empresariais para o seu lado, nada disso foi feito no Brasil. Nada disso eu fiz, e continuam-me a acusar de golpe”, declarou o ex-presidente.
No mesmo discurso, Bolsonaro mencionou os documentos que foram apreendidos pela Polícia Federal, nomeadamente num escritório do seu partido político, que apontam para a alegada intenção de promover uma intervenção na justiça eleitoral após a sua derrota nas presidenciais de 2022.
Num outro momento, o ex-presidente também pediu uma amnistia para os seus apoiantes que foram detidos a 8 de janeiro de 2023, depois de invadirem e vandalizarem os edifícios do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília.
“O que eu procuro é a pacificação, é passar uma borracha no passado. É procurar uma maneira de nós vivermos em paz. É não continuarmos sobressaltados (…), uma amnistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília”, afirmou.
“Nós já amnistiamos no passado quem fez barbaridades no Brasil. Agora pedimos a todos os 513 deputados, 81 senadores, um projeto de amnistia para seja feita justiça no nosso Brasil”, acrescentou.
A ligação do ex-presidente com os atos de destruição nas sedes dos três poderes do sistema brasileiro ainda é alvo de investigação e pode complicar a situação jurídica do antigo governante.
Bolsonaro chegou à manifestação na companhia do governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e do prefeito da cidade, Ricardo Nunes. Vários parlamentares e governadores conservadores marcaram presença na manifestação.
Inelegível até 2030 por decisão da justiça brasileira, Bolsonaro é visto como a figura de proa da direita brasileira, num país fortemente polarizado.
Convocado para prestar esclarecimentos sobre este inquérito pela Polícia Federal brasileira, o ex-presidente manteve-se em silêncio, uma vez que, segundo argumentaram os seus advogados, não teve acesso às provas que sustentaram as investigações.
Bolsonaro também é alvo de investigações sobre a alegada falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19 e de apropriação indevida de presentes e joias recebidas de países do Médio Oriente.