A polícia da Nicarágua expulsou no sábado de uma residência jesuíta seis padres que dirigiam uma universidade encerrada e confiscada na terça-feira pelo Governo da Nicarágua, confirmou a Companhia de Jesus.
Num comunicado, a direção da Companhia de Jesus para a América Central disse que “condena esta afronta”, que acontece após o encerramento e confisco de todos os bens da Universidade da América Central (UCA, na sigla em espanhol) na Nicarágua.
Os padres jesuítas mostraram aos agentes da polícia e funcionários da justiça as escrituras do imóvel, afirmando que não é propriedade da UCA, mas foram ignorados e obrigados a abandonar a casa, lamentou a Companhia de Jesus.
“Os seis membros da comunidade obedeceram às ordens da autoridade e retiraram-se”, sublinhou o comunicado, acrescentando que “os jesuítas despejados se encontram bem e em local seguro”.
Os padres mudaram-se para a comunidade San Ignacio, de uma escola jesuíta em Manágua, disse o portal de notícias Confidencial, dirigido por Carlos Fernando Chamorro, um jornalista obrigado ao exílio e que viu a sua nacionalidade ser-lhe retirada pelo Governo.
Também no sábado, o Movimento de Defesa Estudantil da UCA avançou na rede social X (antigo Twitter) que a polícia tinha detido Adela Espinoza Tercero, uma das líderes estudantis dos protestos de 2018 contra o regime do Presidente, Daniel Ortega.
O Governo da Nicarágua publicou na sexta-feira, no diário oficial, um despacho do Ministério do Interior a aprovar a extinção da UCA e o confisco de todos os seus bens, alegando que a universidade, foco dos protestos de 2018, “operava como um centro de terrorismo”.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Colômbia expressou no sábado a “sua preocupação” com o confisco da UCA e condenou “com veemência todas as medidas que limitam a liberdade religiosa, académica e de expressão” na Nicarágua.
Em resposta, o Ministério dos Negócios da Nicarágua rejeitou o que chamou de “posição intervencionista” da Colômbia, qualificando-a de “insolência e ignorância vulgar”.
Desde dezembro de 2021, pelo menos 26 universidades — incluindo sete estrangeiras — foram encerradas e os seus bens confiscados por ordem do Governo de Ortega, com procedimentos semelhantes aos usados com a UCA.
Em abril, o Vaticano encerrou a sua embaixada na Nicarágua após o governo do país ter suspendido as relações diplomáticas.
A Nicarágua atravessa uma crise política e social desde abril de 2018, que se acentuou depois de as polémicas eleições de novembro de 2021, nas quais Ortega foi eleito para um quinto mandato, o quarto consecutivo e o segundo com a mulher, Rosario Murillo, como vice-presidente, e com os principais opositores na prisão.
Ortega, de 77 anos, está no poder há 16 anos e seis meses consecutivos, sendo alvo de denúncias de autoritarismo e fraude eleitoral.
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