A oposição convocou três dias de protestos em todo o país a partir de hoje, numa nova vaga de manifestações com o objetivo de forçar o Presidente a revogar uma lei financeira que impõe novos impostos.
O Presidente William Ruto tinha prometido que não haveria protestos no país, dizendo que iria enfrentar o líder da oposição, Raila Odinga, “de frente”.
Quatro manifestantes ficaram feridos na capital, na zona de Mathare, em Nairobi, segundo um agente da polícia citado pela Associated Press (AP) que quis manter o anonimato por não estar autorizado a falar com os meios de comunicação social.
A polícia utilizou gás lacrimogéneo e canhões de água para dispersar os manifestantes e as empresas de Nairobi mantiveram-se hoje fechadas.
Foram registadas manifestações em várias outras partes do país, incluindo os condados ocidentais de Kisumu, Migori e Kisii, onde a oposição goza de grande apoio. Na terça-feira, a polícia afirmou que os protestos de hoje eram ilegais, uma vez que não tinha sido emitida qualquer autorização.
O direito a protestos pacíficos está consagrado na Constituição queniana, mas a oposição já realizou no passado protestos violentos que resultaram em mortes.
O ministro da Educação ordenou o encerramento de escolas diurnas em Nairobi e na cidade costeira de Mombaça.
Os protestos da semana passada causaram a morte de mais de seis pessoas e ferimentos em muitas outras, incluindo 53 crianças que entraram em estado de choque após ter sido lançado gás lacrimogéneo no recinto da sua escola.
Os líderes religiosos têm apelado ao diálogo entre o Governo e a oposição para pôr fim aos protestos.
Hoje, os bispos católicos, liderados por Anthony Muheria, emitiram uma declaração reiterando que “não deve ser derramado mais sangue” e instaram o Presidente a revogar a lei das finanças recentemente aprovada, que tem agitado os quenianos.
A nova lei das finanças elevou o preço dos combustíveis para o seu nível mais alto, à medida que o governo implementa uma duplicação do imposto sobre o valor acrescentado aos produtos petrolíferos para 16%. Os novos preços entraram em vigor apesar de uma ordem judicial que suspende a aplicação dos novos e controversos impostos.
Enquanto os líderes religiosos quenianos e outros instam o Presidente a revogar a lei das finanças para aliviar a crescente frustração pública, o Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou esta semana a sua aprovação um passo “crucial” para reduzir as vulnerabilidades da dívida do Quénia.
Na terça-feira, os enviados ocidentais de 13 países emitiram uma declaração conjunta apelando ao diálogo e manifestaram a sua preocupação com a perda de vidas e a destruição de bens.
O grupo de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch instou na terça-feira os líderes políticos a deixarem de rotular os manifestantes de “terroristas” e a respeitarem o direito a protestos pacíficos. O grupo criticou a polícia por ter usado a força e balas reais para confrontar os manifestantes.
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