Quase 61 milhões de novos deslocamentos internos, ou movimentos, foram registados em 2022, um aumento de 60% em relação ao ano anterior, segundo um relatório hoje divulgado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Trata-se do mais elevado número alguma vez registado e inclui não só os novos deslocamentos como também os repetidos, indicou o Centro de Monitorização de Deslocamentos Internos (IDMC), que elaborou o documento a partir da informação fornecida pela sua parceira OIM através da sua Matriz de Rastreamento de Deslocamentos (DTM), a maior base de dados mundial sobre essa matéria.
O Relatório Global dos Deslocamentos Internos (GRID) 2023 (relativo ao ano de 2022) mostra que os conflitos e a violência desencadearam 28,3 milhões de deslocamentos, o número mais alto da última década – com a Ucrânia, onde está em curso uma guerra de agressão da Rússia desde 24 de fevereiro de 2022, a somar 60% do total.
Também os desastres naturais fazem com que, todos os anos, milhões de pessoas sejam deslocadas, e o ano passado não foi exceção: cheias no Paquistão e o tufão Noru, nas Filipinas, causaram 32,6 milhões de deslocados internos, o maior número registado.
De acordo com o documento, espera-se que este número venha a aumentar mais ainda à medida que se agravar a frequência, a duração e a intensidade das catástrofes naturais, no contexto das alterações climáticas.
O Banco Mundial prevê que até 216 milhões de pessoas possam tornar-se migrantes climáticos internos até 2050, se não for adotada uma ação climática concertada.
“Estamos a assistir a uma tendência continuada de desastres em grande escala sem precedentes, causando uma significativa perda de vidas, destruição de habitações e meios de subsistência e novos níveis de deslocamentos [pelo que] é mais importante que nunca reforçar os nossos esforços conjuntos de ação climática e investir em corredores de migração seguros, regulares e ordenados”, declarou o diretor da OIM, António Vitorino, citado no comunicado da agência especializada da ONU.
“Determinar as necessidades de pessoas que são forçadas a mudar-se por causa de conflitos, violência e desastres naturais é fundamental para garantir que a ajuda humanitária e os serviços essenciais conseguem chegar às pessoas que mais precisam desse apoio em tempo útil”, defendeu.
O relatório deste ano destaca a insegurança alimentar como um fator, uma consequência e um potencial obstáculo a soluções para o deslocamento interno.
“Crises com várias dimensões e sem precedentes estão a tornar-se a norma, e o impacto na mobilidade humana é cada vez mais evidente”, salienta o IDMC no documento.
“Crises relacionadas com as alterações climáticas em curso, os efeitos prolongados da pandemia [de covid-19], a instabilidade económica, o aumento dos preços dos alimentos e as reverberações globais da guerra na Europa tiveram como resultado níveis recorde de insegurança alimentar em grandes áreas do mundo em 2022”, acrescenta.
Contudo, sublinhou a OIM no seu comunicado, “apesar destes gigantescos desafios, persistem diferenças de conhecimento na forma como a comunidade internacional encara e gere os deslocamentos internos em contextos de conflito e desastres naturais”.
Segundo a organização com sede em Genebra, o relatório IDMC GRID “é um claro alerta de que é necessário adotar agora medidas concretas para encontrar soluções sustentáveis para os deslocamentos internos”.
É também “uma ferramenta inestimável para parceiros humanitários e de desenvolvimento, governos e uma série de diferentes grupos intervenientes trabalharem para preparar ou evitar futuros deslocamentos”, vincou a OIM.
ANC // SCA