O sismo de 7,8 de magnitude que atingiu o sul da Turquia e o noroeste da Síria a 6 de fevereiro provocou milhares de feridos e mais de 45 mil mortes. Desde então, sucederam-se histórias impressionantes de pessoas, que ao fim de centenas de horas, saem com vida dos escombros.
“Quando [os nossos colegas] disseram: ‘Encontrámos uma pessoa viva’, pensámos: ‘Não, devem estar a alucinar’. Não podíamos acreditar. Mas é um milagre. A única coisa que podemos dizer é que se trata de um grande milagre”, conta o operacional de resgate e salvamento Özer Aydinli à CNN, depois de a sua equipa resgatar uma criança de 13 anos quando já passavam quase 290 horas do sismo.
O tempo máximo de sobrevivência é uma questão importante para os operacionais. O seu conhecimento ajuda as equipas de resgate a decidir se devem ou não prosseguir as suas atividades, a avaliar os riscos de segurança para os operacionais em campo, a determinar quando as atividades de busca e salvamento devem cessar, e o tempo das operações de recuperação de infraestruturas. Um estudo indica que o tempo máximo de sobrevivência sob escombros registado é de 2 semanas, ou seja, 336 horas.
A capacidade de resistência depende da gravidade dos ferimentos, do tipo de lesões, do espaço que a vítima tem entre as ruínas e de acesso a ar fresco. Aydinli admite que o rapaz de 13 anos salvo dos escombros possa ter ficado preso num “triângulo vital”, em que a posição dos escombros criou um espaço onde o menino ficou protegido.
Segundo a agência Reuters, Huseyin Berber, de 62 anos, sobreviveu 187 horas até ser resgatado. Berber terá beneficiado também de um “triângulo vital” vital em que um frigorífico e um armário o protegeram da queda de destroços. Para além disso, tinha acesso a uma poltrona e a um tapete, o que o ajudou a manter-se quente. Huseyin Berber é diabético e revela ainda que depois de a sua garrafa de água acabar, chegou a tomar os medicamentos com a sua própria urina.
Segundo o New York Times, dois irmãos que foram retirados dos destroços na manhã de 14 de fevereiro, em Kahramanmaras, afirmaram ter acesso a proteína em pó que dissolveram na sua própria urina.
Especialistas explicam ainda que as baixas temperaturas, como as registadas na região, podem queimar calorias ou gorduras acumuladas, fazendo com que o corpo utilize as suas reservas naturais para sobreviver quando privado de alimentação e água.
Grande parte das vítimas sofreu ferimentos, lesões cerebrais e hemorragias, viu membros amputados e experienciou síndrome compartimental, que ocorre, principalmente, nos músculos dos membros inferiores e dos antebraços devido a fraturas e contusões. Os músculos são revestidos por um tecido fibroso chamado fáscia, que circunda vasos sanguíneos e nervos. Quando ocorre uma lesão e se regista um inchaço, há um aumento da pressão que resulta, em último caso, na necrose dos tecidos. Quando se procede à descompressão da área afetada, algumas toxinas acumuladas podem ser libertadas na corrente sanguínea, algo que afeta principalmente os rins, sendo necessária diálise imediata.
Receber ajuda médica tem sido tarefa árdua. No sul da Turquia, hospitais e centros de saúde desmoronaram-se. Já o noroeste da Síria tem sido devastado pela guerra civil que grassa há quase 12 anos.