“A pandemia veio de facto reforçar a importância das novas tecnologias aplicadas ao ensino, particularmente ao ensino de línguas. Digamos que esta era já uma área que estava em crescimento e que se acelerou com a pandemia”, explicou o professor da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de São José, João Paulo Pereira.
“Pretende responder a uma das maiores dificuldades de quem aprende o português como língua não materna e que tem a ver com a compreensão de textos orais. É uma plataforma especificamente de materiais audiovisuais, organizados por nível de proficiência linguística (do nível A1 ao nível C1) e por temas, com propostas de atividades pensadas para desenvolver a compreensão do oral, não existindo, que eu saiba, outra deste género no âmbito do ensino e aprendizagem do português”, acrescentou.
A plataforma, cujo lançamento está agendado para esta segunda-feira, vai ficar disponível para as centenas de alunos do curso de tradução chinês-português e da disciplina de português geral, mas também aberta para todos os docentes e alunos fora da universidade.
“A abordagem didática seguida é diferente da habitual. Não se limita apenas aos tradicionais exercícios de verdadeiro e falso e de preenchimento de espaços. (…) Há, por exemplo, questionários de autorreflexão, no fim de cada sequência didática, em que o aluno é confrontado com as estratégias que utilizou ou não. (…) Finalmente, gostava de destacar a possibilidade de o aluno poder criar os seus próprios exercícios. Basta ter a transcrição do texto que quer trabalhar (por exemplo a letra de uma canção) e a plataforma gera automaticamente o exercício”, precisou o docente.
Os recursos audiovisuais vão desde documentários, videoclipes, curtas-metragens e notícias, tratando-se de “materiais autênticos, (…) criados especificamente para o ensino e que apresentam a língua tal como ela é usada”.
“Quem aprende português quer compreender o que vê na televisão ou no telemóvel ou em relação à música que ouve. Um aspeto que gostava de salientar é o facto de haver muitos vídeos legendados e de o aluno ter acesso também à transcrição, o que ajuda muito à compreensão”, salientou João Paulo Pereira.
A criação da plataforma visa, sobretudo, “desenvolver concretamente a competência da compreensão do oral, assim como a literacia visual”.
“A plataforma pode ser utilizada numa lógica de aula, diria até de laboratório de línguas, mas também pode servir de apoio às aulas. Depende da forma como o professor tira partido dela. Ao mesmo tempo, a ideia é levar a que o aluno se torne mais autónomo em termos da sua própria aprendizagem, tirando partido das funcionalidades que a tecnologia lhe oferece”, adiantou.
O ponto de partida é Macau, mas a dimensão lusófona está presente na idealização do projeto.
“Este é um projeto feito em Macau e para Macau, em primeiro lugar. Há muitos conteúdos sobre Macau. E há vídeos legendados inclusive em chinês. No entanto, também serve o público em geral. Não por acaso todos os países de língua oficial portuguesa estão representados em termos de conteúdos. Se queremos que o português seja de facto uma língua pluricêntrica e de comunicação global, os materiais didáticos devem refletir essa diversidade e essa universalidade”, concluiu.
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