Donald Trump é fã das chamadas telefónicas: “Ele atendia as chamadas de literalmente toda a gente”, disse o assessor do ex-Presidente dos EUA, interrompendo até mesmo os briefings de segurança nacional para fazer e receber chamadas.
Foi mesmo esse hábito de conversar ao telefone que levou a que os investigadores do ataque do dia 6 de janeiro de 2021 reparassem numa lacuna. Nos registos telefónicos, existe um período de tempo de várias horas em que o antigo Presidente não recebeu nem efetuou chamadas, o que levou os investigadores a procurar os registos telefónicos noutros lugares: nos telemóveis de outras pessoas, ou até nos telemóveis do próprio Trump, embora o comité tenha se recusado a dar esse passo até agora.
Encontrar exatamente com quem Trump falou – e quando – está a dificultar a investigação: de acordo com várias fontes na administração, o ex-presidente costumava usar telefones de outras pessoas (ou vários telefones próprios) para se comunicar com os apoiantes e com a família. A lacuna, alegadamente, ocorreu entre o momento em que Trump foi conversar com os seus apoiantes e a altura em que falou à nação.
Um ex-funcionário culpou este hábito de usar o telefone das outras pessoas pela aversão que Trump tinha em que qualquer um poderia ouvir as suas chamadas telefónicas.
Várias fontes disseram à CNN que o antigo vice-chefe de gabinete da Casa Branca, Dan Scavino, era um canal comum para as conversas de Trump: uma fonte testemunhou Scavino várias vezes a entregar o seu telefone a Trump para atender chamadas. A fonte descreve vice-chefe como a “chave para praticamente tudo”, dado o tempo que passou com o antigo presidente. O advogado de Scavino recusou-se a comentar.
Mas é mais que isso: alguns interlocutores, dizem os assessores, chegaram a achar que era mais fácil comunicar com Trump através do chefe de gabinete, Mark Meadows, ou até mesmo da filha, Ivanka Trump.
No dia do ataque, à semelhança do que acontecia regularmente, Trump não levou o telefone pessoal para a Salão Oval, de acordo com o ex-governador de Nova Jersey, Chris Christie, que tentou várias vezes contactá-lo no momento do aparato: “Primeiro, liguei para a secretária dele. Ela não atendeu o telefone. Foi direto para o voice mail. Então liguei para o guarda costas e ele não atendeu. Depois liguei para a central telefónica da Casa Branca e disseram-me que ele não estava disponível. E então eu liguei para o telemóvel pessoal”, disse à CNN, numa entrevista no ano passado. “Eu não sabia onde ele estava. Tentei o telemóvel dele e foi para o voice mail“.
Trump nunca ligou de volta para Christie naquele dia. Mas sabe-se falou com o líder da minoria da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, durante o ataque – embora não este contacto não esteja nos registos de chamadas oficiais.
Até agora os investigadores da operação não chegaram a nenhuma conclusão sobre a grande lacuna nos registos telefónicos.