Sempre que tem uma oportunidade, Putin gosta de contar uma história dos seus tempos de infância, quando perseguia, com a ajuda de amigos, os ratos que se escondiam nas escadas do prédio comunitário onde morava em São Petersburgo, então ainda chamada Leninegrado. Numa ocasião, o pequeno Vladimir, depois de perseguir um rato enorme, com a ajuda de um pau, conseguiu encurralá-lo, num canto. “Ele não tinha para onde fugir”, recordou numa das mais citadas entrevistas de um livro publicado em 2000, pouco depois de subir ao poder em Moscovo. “Mas, de repente, o rato virou-se contra mim e apanhou-me surpreendido, assustado. Fugi e ele perseguiu-me. Por sorte, fui mais rápido e consegui fechar a porta com força.”
Essa foi uma lição de vida para Putin. E que se tornou agora ainda mais atual e pertinente, quando o líder russo decidiu enfrentar a NATO e a Europa ao sentir-se encurralado, com a possibilidade de a Ucrânia passar a integrar o sistema de defesa ocidental. Em vez de recuar, ele fez como o rato que o desafiou em criança: passou ao ataque, de uma forma meticulosa e em várias frentes, endurecendo sempre o tom do seu discurso, deixando cair um par de ameaças e aproveitando todos os momentos para mostrar a sua força e, ao mesmo tempo, tentar pôr a nu a desorientação e as divisões de quem o enfrenta.