Joaquina é sol e é força, resiliência e esperança. É isso que mostra a blusa amarela que ela veste e que faz conjunto com o sorriso aberto e o olhar determinado com que nos brinda. Aos 66 anos, não deixou que a matassem, nem os ataques à aldeia de Chinda, onde vivia e cultivava caju na sua machamba, nem as três semanas de fuga pelo mato, com a família no encalço. Saíram de lá sem nada, em junho do ano passado, e com pouco sobrevivem em Montepuez, a 300 quilómetros de casa, onde os dias passam, sempre iguais, num dos campos de reassentamento criados para albergar as cerca de 15 mil famílias que chegaram nos últimos meses. “Se me dissessem que podia voltar amanhã, eu voltava”, diz, com a voz cheia de uma tristeza que só se sente. “Aqui, a terra não é boa, não se consegue cultivar nada”, lamenta. “Mas estamos vivos!”, contrapõe Cristóvão que, aos 67 anos, tem pouca esperança de regressar ao lugar que lhe levou a esperança e o filho de 17. “Ele estava a vender banana à beira da estrada. Chegaram e mataram-no”, conta, com um olhar vazio. Diz dos assassinos que eles “se vestiam como soldados e se comportavam como soldados”, e atira-nos um encolher de ombros para que tiremos as nossas ilações. Cristóvão fugiu de Mocímboa da Praia e não pensa em regressar. “Não volto para um lugar onde posso morrer sem saber quem me mata.”
Desde 2017 que a província de Cabo Delgado, no Norte de Moçambique, é alvo de violentos ataques que tornaram desertas aldeias inteiras, mataram mais de um milhar de pessoas e deixaram incontáveis feridos (ver caixa). Recorde-se que é nesta região que está a ser feito o maior investimento total em Moçambique, na construção da já chamada “Cidade do Gás”. O diretor do departamento de petróleo e gás da Standard & Poor’s afirmava, no ano passado, que “o investimento de 125 mil milhões de dólares [115 mil milhões de euros], até meados desta década, pode levar a um desenvolvimento enorme e sustentável do país”. “Há três aspetos únicos na exploração de gás em Moçambique, que são o facto de o país estar no meio do mapa e ser ideal para exportar para a Ásia e para a Europa, ter uma grande concentração de reservas num raio geográfico pequeno e não estar alinhado com qualquer jurisdição política, podendo, por isso, vender para todos os países”, salienta Paul Taylor.