Onde está Peng Shuai? É o que perguntam milhares de pessoas num movimento que começou online há alguns dias. Ninguém sabe do paradeiro da tenista profissional chinesa, que parece ter desaparecido depois de, no passado dia 2, acusar o antigo vice-primeiro ministro Zhang Gaoli de a ter forçado a ter relações sexuais, num episódio que ocorreu há três anos.
A acusação foi feita numa publicação na rede social chinesa Weibo, que entretanto foi apagada. Na publicação, Peng contava que manteve uma relação extra-conjugal intermitente com Zhang, que tentou manter em segredo. Zhang parou de contactar Peng quando começou a ganhar influência no seio do Partido Comunista Chinês, mas há três anos, convidou-a para jogar ténis com ele e a sua mulher. Nesse dia, Zhang terá forçado Peng a ter relações sexuais com ele. “Nunca consenti nessa tarde, e chorei o tempo todo”, recorda a tenista.
A atleta, que já foi líder do ranking feminino de pares, afirmou ainda na publicação que não tinha meios de provar as acusações, mas que estava determinada a dar-lhes voz mesmo assim.
As autoridades chinesas trabalharam rapidamente para encobrir as acusações, e a publicação foi rapidamente eliminada. Dentro de uma questão de horas, a publicação não só tinha desaparecido como a conta de Peng tinha sido também desativada (embora tenha sido posteriormente reativada). Até o nome de Peng e o termo ‘ténis’ foram bloqueados das pesquisas.
Apesar destes esforços, alguns internautas tiraram print-screens (capturas de ecrã) da publicação, que se tornou viral.
Onde está Peng Shuai?
O circuito feminino de ténis (WTA – Women’s Tennis Association) já pediu que seja feita “uma investigação completa, justa e transparente” às acusações de Peng. Num comunicado oficial, Steve Simon, diretor-executivo da WTA, refere que os acontecimentos “são motivo de profunda preocupação”.
“Peng Shuai e todas as mulheres merecem ser ouvidas, não censuradas”, continua, acrescentando ainda que “o comportamento que Peng alega ter ocorrido precisa de ser investigado, e não tolerado ou ignorado”.
Simon adiantou ainda, em declarações ao jornal norte-americano The New York Times, que a WTA tem confirmação de várias fontes, incluindo a Associação Chinesa de Ténis, “de que Peng está segura e não está sob qualquer ameaça física”. No entanto, ninguém associado à WTA tinha conseguido contactá-la diretamente para confirmar o seu estatuto, apesar de terem a ideia de que se encontra em Pequim, segundo Simon.
Nas redes sociais, têm-se multiplicado as manifestações de preocupação acerca da segurança de Peng. Chris Evert, líder do ranking feminino por cinco vezes e vencedora de 18 títulos do Grand Slam, expressou a sua preocupação no Twitter: “Conheço a Peng desde que ela tem 14 anos; todos devemos estar preocupados. Isto é sério; onde é que ela está? Está segura? Qualquer informação seria bem-vinda”.
Nicolas Mahut, que já foi número 37 do ranking mundial, escreveu também no Twitter: “O facto de a Peng Shuai estar desaparecida não é só um problema da WTA. Estamos todos preocupados”.
Organizações feministas chinesas já expressaram igualmente preocupação com o assunto. Em várias localizações, foram projetadas imagens com mensagens como “Onde está Peng Shuai?”, “Exigimos o regresso em segurança de Peng Shuai”, e “Peng Shuai, estamos do teu lado”.
O caso de Peng Shuai vem dar tração ao movimento #MeToo na China, já que nunca tinham sido feitas acusações deste tipo contra um oficial numa posição tão alta como a de Zhang.
Entre 2013 a 2018, Zhang foi um dos sete membros do Comité Permanente de Elite da Politburo – o grupo restrito de liderança política do país – liderado pelo líder da China, Xi Jinping.