As restrições no aeroporto de Cabul, nomeadamente que os voos comerciais não estavam autorizados a circular, impediram que os fornecimentos de primeiros socorros, como equipamentos cirúrgicos e kits para combater a desnutrição chegassem atempadamente ao país, explica a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O Programa Alimentar Mundial (PAM), que abastece por estrada o país, disse que neste momento há quatro rotas de abastecimento diferentes, mas que a partir do próximo mês podem começar a ficar sem alimentos.
Segundo Andrew Patterson, vice-diretor do PAM no Afeganistão, a organização está a transportar alimentos através de passagens humanitárias, inclusive do Uzbequistão, por onde chegaram 50% dos mantimentos, bem como via Paquistão e Turquemenistão.
Cerca de 22 mil toneladas de alimentos estão agora no Afeganistão, disse Patterson, com 7 mil toneladas a caminho, mas para ter comida suficiente para durar até dezembro, 54 mil toneladas adicionais devem ser entregues. Andrew Patterson teme que possam “começar a ficar sem comida em setembro”.
“Uma pessoa em cada três” corre risco de carência alimentar no Afeganistão. “Além do conflito, a população afegã já enfrentava uma grave crise alimentar em 2021, um ano que já estava definido como muito difícil”, lamenta a responsável do PAM em Cabul, Mary-Ellen McGroarty à France Presse.
O país enfrenta ainda a segunda seca em três anos, tendo-se verificado “uma redução de 40% na colheita de trigo, em resultado de um dos invernos mais secos dos últimos 30 anos. Tivemos muito pouca neve em Cabul este ano”, acrescentou Mary-Ellen McGroarty.
A guerra e a chegada dos talibãs também está a ter consequências para a situação alimentar, uma vez que os agricultores tiverem de abandonar os locais de cultivo e os pomares.
A destruição de infraestruturas como pontes, barragens e estradas dificultou de forma preocupante o acesso aos alimentos, disse a responsável pela agência das Nações Unidas na capital do Afeganistão.
O PAM precisa de cerca de 170 milhões de euros para comprar alimentos para 20 milhões de pessoas, sendo que metade da população do país já depende de ajudas.
A guerra e a seca provocaram igualmente a inflação dos preços dos alimentos: o trigo está 24% mais caro atualmente em relação aos preços dos últimos cinco anos.
Se muitos são os que tentam fugir, quem fica no país também precisará de ajuda. A OMS está a pedir que os aviões ainda não tripulados sejam desviados para armazéns no Dubai para recolher mantimentos antes de se dirigirem ao Afeganistão para recolher os evacuados do país.
Henrietta Fore, diretora executiva da Unicef, disse num comunicado, que cerca de 10 milhões de crianças em todo o Afeganistão precisam de ajuda humanitária, um milhão podem morrer sem tratamento e que as condições devem piorar ainda mais.
“Prevemos que as necessidades humanitárias de crianças e mulheres aumentarão nos próximos meses em meio a uma severa seca e a consequente escassez de água, as devastadoras consequências socioeconémicas da pandemia Covid-19 e o início do inverno”.