A questão sobre onde é que a família real britânica vai buscar o seu dinheiro voltou a surgir depois da entrevista da apresentadora Oprah Winfrey aos duques de Sussex, no início deste mês. Durante a conversa, Harry revelou que a sua família tinha cortado financeiramente com ele, depois de o casal anunciar que os dois pretendiam deixar de ser “membros seniores” da família real inglesa e ter liberdade para trabalhar de forma independente. Esta decisão implicou que o casal teria de abdicar de certos rendimentos providenciados pela família real.
Na sua entrevista mais recente, Harry e Meghan revelaram que deixaram de receber qualquer rendimento do Ducado da Cornualha, administrado pelo seu pai, o Príncipe Carlos, no primeiro trimestre de 2020, apesar de a notícia ter sido dada apenas em setembro desse ano. No mesmo mês, o casal anunciou que tinha devolvido mais de 2 milhões de libras (2,3 milhões de euros) retirados do Sovereign Grant, que teriam sido utilizados para renovar a Casa de Windsor. Agora, o Duque de Sussex revelou estar a viver da herança deixada por Diana, a sua mãe, para Harry e William, um valor que ultrapassa os 10 milhões de euros (a cada um).
Além dessa herança, Meghan Markle e Harry têm um contrato milionário com a plataforma de streaming Netflix para a criação de documentários, filmes e programação infantil, um podcast no Spotify, Archewell Audio, e, em conjunto com a Apple TV+, Harry e Oprah Winfrey estão a produzir uma série documental sobre saúde mental, projeto anunciado já em 2019. As receitas que Meghan Markle conseguiu como atriz também fazem parte do rendimento do casal. Apesar de não ser um valor confirmado, um relatório da Forbes, de fevereiro do ano passado, estimou que o património líquido de Meghan e Harry era de cerca de 10 milhões de dólares, mais de 8 milhões de euros.
E o da família real britânica?
Em 2020, o Sunday Times anunciou que a riqueza líquida da rainha estava avaliada em 350 milhões de libras (mais de 400 milhões de euros), caindo 20 milhões de libras em relação ao ano anterior (ainda assim, estima-se que os ativos totais da família real valham muito mais do que isso). De acordo com o relatório anual da Coroa Britânica para 2019/20, o valor do portefólio imobiliário real caiu no ano transato 1,2 por cento devido ao impacto da Covid-19. E essa tendência de queda deve continuar, lê-se no relatório. “Embora seja muito cedo para prever com precisão o nosso desempenho para o ano fiscal de 2020/21, espera-se que o lucro líquido e avaliações de propriedades caiam significativamente”.
Criado em 2012, o Sovereign Grant é um rendimento dado pelo Governo e resulta dos lucros gerados por propriedades e quintas da Coroa britânica (Crown Estate), que move “centenas de milhões de libras por ano”, explica a CNN, e que tem propriedades como assim como o Palácio de Buckingham e o Castelo de Windsor. A maioria vai para os cofres do Governo, mas entre 15% e 25% destina-se à família real britânica. Cobre custos de viagens e segurança, salários de funcionários e manutenção dos palácios. O Crown State, tal como é explicado no site oficial da família real, “não é propriedade privada do monarca, não pode ser vendido pelo monarca, nem as suas receitas lhe pertencem.”
Entre 2018 e 2019, o valor total do Sovereign Grant foi de 82,2 milhões de libras (mais de 96 milhões de euros) mas, desse valor, 32,9 milhões de libras foram destinadas à reserva do Palácio de Buckingham e também cobrem as despesas relacionadas com deveres da família real inglesa.
Já o Privy Purse refere-se aos rendimentos provenientes do Ducado de Lancaster (ou Lencastre, em português), que integra propriedades urbanas e rústicas pertencentes à monarquia britânica desde 1265, e gera enormes receitas anuais . Em 2018, o Privy Purse recebeu quase 20 milhões de libras, mais de 23 milhões de euros, de acordo com um documento publicado pelo próprio Ducado. É a partir deste dinheiro que a rainha Isabel paga aos filhos, Andrew, Anne e Edward, um salário pelos seus compromissos reais em todo o mundo.
O Ducado da Cornualha, fundado em 1137, é administado por Carlos, o Príncipe de Gales. São mais de 500 quilómetros quadrados de terras agrícolas e urbanas, em 23 condados britânicos que são da responsabilidade do herdeiro do trono e que financiam “as atividades públicas e privadas do Príncipe de Gales e da sua família”, assim se lê no site oficial. Segundo a CNN, cerca de 90% dos rendimentos de Carlos é conseguido a partir deste Ducado e é através do seu excedente que ele paga um salário a William e Kate Middleton – o mesmo tendo antes ocorrido com os Duques de Sussex. Entre 2019 e 2020, o Príncipe de Gales e a Duquesa da Cornualha, Camila, receberam mais de 22 milhões de libras em receitas do Ducado, assim como quase 2 milhões de libras do Sovereign Grant, para financiamento dos seus compromissos reais por todo o mundo (mais de 500, no último ano).
Investimentos pessoais, impostos e os Paradise Papers
A rainha tem ainda outros ativos e o seu património privado inclui uma coleção de arte e de selos, assim como símbolos da iconografia monárquica, destacando-se ainda o Castelo de Balmoral, na Escócia, e o Palácio de Sandringham, no Condado de Norfolk, herdados do pai, George VI. Todas as receitas geradas por ambas as propriedades, em turismo e eventos, por exemplo, pertencem à rainha. Quanto às joias, algumas delas fazem parte do seu património pessoal, mas outras são suas apenas enquanto ocupar o trono.
Relativamente a taxas, Elizabeth II paga o imposto de renda e o imposto sobre ganhos de capital desde 1992, voluntariamente, e qualquer receita proveniente do Ducado de Lancaster que não vá para as despesas oficiais também é tributada, pagando também impostos locais.
Uma das partes importantes da propriedade da rainha é gerada pelas ações que possui em grandes empresas privadas, que têm, de acordo com o Sunday Times, um valor de mercado de 154 milhões de euros.
Em 2017, uma investigação internacional que ficou conhecida com os “Paradise Papers”, levada a cabo pelo mesmo consórcio que revelou os “Panama Papers”, revelou que a rainha teria investido, a partir de 2007, mais de 11 milhões de euros do seu património privado num fundo nas Ilhas Caimão.
Os documentos divulgados mostraram como, através do Ducado de Lancaster, a rainha detém investimentos através de fundos que canalizaram dinheiro em diferentes negócios, como empresas médicas e de crédito ao consumo. Na lista estava a BrightHouse, a maior retalhista do Reino Unido, criticada por especialistas de consumo e por deputados do parlamento britânico por explorar milhares de famílias pobres.