Ao longe, os fios que atravessam a floresta tropical amazónica do Perú parece ser rios feitos de ouro. Mas a região, no estado de Madre de Dios, no leste do país, onde está alguma da maior biodiversidade do planeta – toda a variedade de aves, felinos como o jaguar ou a onça parda, múltiplas espécies de lagartos, e ainda macacos, peixes… – é também tristemente conhecida pela prática ilegal de extração de ouro. A dimensão que o desmatamento já provocou é há muito apontada a dedo. Mas, nem isso acalmou os ímpetos da indústria ilegal de extração do minério, como mostra a foto agora divulgada.
A imagem foi tirada na véspera de Natal de 2020, por um dos astronautas do Observatório da Terra da agência espacial americana (NASA) e faz uma atualização do rasto dramático deixado para trás por aquela indústria: são poços de prospeção gigantes, fossas geralmente feitas em locais escondidos, mas que se destacam nas imagens devido ao reflexo da luz solar.
34 mil campos de futebol, várias vezes…
Espaço imaculado da Amazónia, onde se encontra o mais extenso ecossistema de floresta tropical do mundo, a região tem algumas zonas protegidas – como a Reserva de Tambopata. Mas ali ao lado, centenas de milhares de quilómetros quadrados têm vindo a ser transformados num deserto sem árvores e cheio de resíduos tóxicos. Só entre 2004 e 2011 a região de Madre de Dios perdeu precisamente 28 369 hectares de cobertura vegetal nativa, uma área equivalente à superfície de Malta.
Perto disso desapareceu depois só ao longo do ano de 2018, como fez saber o grupo de monitorização do projeto da amazónia andina, conhecido como MAAP. Foi o total anual mais elevado desde que começaram a ser feitos registos, em 1985 – e eclipsava o recorde do ano anterior. Ou seja, durante dois anos, a extração de ouro dizimou qualquer coisa como 34 mil campos de futebol, acusou o MAAP.
Aquela que é uma das maiores indústrias mineiras ilegais do mundo sempre teve expressão no país, onde 22 por cento da população vive abaixo do limiar de pobreza – com pouco mais de euro e meio por dia – mas disparou depois da crise financeira mundial de 2011, momento que coincidiu com a inauguração da Autoestrada Interoceânica do Sul, também conhecida como Estrada do Pacífico. Proporcionando ligações rodoviárias entre três portos no Perú e o Brasil, pretendia favorecer a circulação de pessoas e fomentar o comércio e o turismo. Mas a desflorestação, como bem demonstra a foto agora divulgada pela NASA, continua a ter um impacto bem maior. O pior? O mercúrio utilizado para extrair ouro polui também os cursos de água em volta.